Em busca de um conceito

26 de julho de 2011 § Deixe um comentário

(Je suis arrivée. Où?) Vamos adiante.

Outro dia, digo, no último sábado, assisti a Exit through the gift shop (ainda não descobri o título em Português). Foi no avião, cruzando um oceano, numa telinha de 5 ou 6 polegadas. Péssimo som. Até então eu pensava que era “o filme do Banksy”. Mas logo de início vemos que não. É sobre o fenômeno da street art, alguns nomes proeminentes (Space Invader, Shephard Fairey) e principalmente uma figura (fictícia, talvez, ainda não averiguei) Thierry Guetta, artista emergente, de sucesso relâmpago, conhecido como Mr. Brainwash. A ambiguidade do filme, envolvendo pessoas reais em torno de um filhote de Andy Warhol (pai da reproducão) encarnado na figura de Brainwash, reforça a noção da nossa era da simulação e do simulacro.

Não vou me aprofundar na questão da street art, ou da trama específica do pseudo-documentário, pois não foi para mim o mais relevante. Durante o filme, percebi que o sucesso de um ou de outro artista, em qualquer área (a mídia não importa) é a estratégia que ele constrói para se expressar, para se fazer conhecer, como pesquisa e como aventura. O que faz do Banksy o Banksy; ou Christo e Jeanne-Claude, ou Oiticica, ou Beuys, ou qualquer outro bamba, nas suas mais diversas abordagens, é a postura coerente entre o que fazem e o que pensam. Ou seja, é uma estratégia artística, que às vezes se faz explícita, como no caso de Banksy: um personagem-herói (praxis comum no mundo dos grafiteiros) de identidade secreta, que viaja pelo mundo tagueando suas idéias.

      

Às vezes a estratégia não é colocada assim, não é consciente ou não é planejada necessariamente. Pode acontecer num rompante de descobertas e transformações, como na incursão de Hélio Oiticica pelas favelas do Rio ou de Joseph Beuys, após a queda no deserto da Criméia. Certas experiências pessoais marcam definitivamente o trabalho de um artista.

Claro que bastante gente trabalha apenas em cima de um material, de uma mídia, a vida inteira, sem definir exatamente uma postura ética, estética. Mesmo estes são em si uma afirmação da persistência criativa. Mas não é deles que falo aqui. Gosto de citar Christo e Jeanne-Claude porque eles são um bom exemplo de estratégia criativa e profissional. Nunca aceitaram subsídios e patrocínios, sempre viabilizaram seus trabalhos ousadíssimos através da venda do material que produziam no processo de criação (desenhos e maquetes, lindíssimos) ao mesmo tempo em que se reuniam e persuadiam pessoas centrais para a autorização de suas intervenções públicas.

A estratégia artística não tem fórmula, nem receita. É um misto de conceito e prática, de atitude e de fé (no sentido amplo do termo).  Em outras palavras, a aventura artística mescla angústias, escolhas, descobertas e a famosa transpiração. Temos a sorte de poder ler as idéias de muita gente boa, através de registros deixados por eles mesmos, ou por pessoas que puderam conhecer de perto a vida e a obra de um deles. Vide Waly Salomão, Qual é o parangolé?, sobre Oiticica. Que leitura maravilhosa aliás!

Segue um link bacana que só fui conhecer recentemente: transartists.org

River de Janeiro

10 de julho de 2011 § Deixe um comentário

Estou numa passagem relâmpago pelo Rio. Tentando me encontrar, reparar feridas, tomar uma decisão importante.Vai ser difícil ver todos os amigos. Talvez eu volte logo pra cá. Minhas dúvidas pessoais se confundem com questões maiores, como a situação atual da Holanda e as oportunidades no Brasil. Lá estão cortando o orçamento de todos os setores. A cultura e a arte na Holanda, que sempre foram motivo de atração de artistas do mundo todo, estão seriamente ameaçadas. A direita subiu no poder e os Países Baixos se tornam cada vez mais racistas.

Enquanto isso no Brasil, estamos crescendo aos poucos. Procuram engenheiros e arquitetos no momento. Eu poderia sair da situação de estudante dura, imigrante não-européia, para arquiteta assalariada no Brasil. Essa situação toda se coloca como um dilema que eu preciso solucionar em menos de duas semanas. Haja razão e coração. É por isso que estou fazendo terapia e lendo O Erro de Descartes, de Antonio Damasio. Na esperança de obter uma luz na minha decisão.

Onde estou?

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