O futuro das roupas

14 de novembro de 2015 § Deixe um comentário

A ida recente à África do Sul e o trabalho de figurino com Rutkay (o terceiro projeto dele com o Korzo e comigo) me despertaram um ímpeto crescente em costurar e desenhar roupas.

Esse documentário me inspirou muito essa semana:

Estúdios

18 de abril de 2014 § Deixe um comentário

Estava há tempos querendo um espaço para trabalhar, pesquisar, ensaiar meus projetos. Durante os anos de estudo na KABK, eu mal podia arcar com o aluguel de casa, muito menos de um estúdio. Então eu usava a sala do Artscience todas as noites e todos os sábados possíveis. Ouvindo música e testando minha instalação com o maior conforto do mundo, haviam instalado ali uma grelha no teto, daquelas que permitem suspensão de equipamentos e de corpos múltiplos. Eu praticamente me pendurava como um chimpanzé, enquanto fixava os ganchos em todas as combinações imagináveis. Mas quando havia feriados ou quando estava ocupado, o estúdio nunca era meu. E com o tempo entendi a importância de se ter um espaço pessoal.

Praticamente todo mundo que eu conhecia já tinha o seu estúdio. Mas depende muito do network e da urgência de cada um. Alguns artistas raçudos alugam um espaço num squat (como traduzir?). Estes tem custos quase nulos, em geral não tem aquecimento, mas oferecem áreas enormes, onde se pode trabalhar por tempo indeterminado. Nesse esquema, nunca se sabe se o proprietário do edifício ou o Estado vão clamar o imóvel de volta. Nunca é exatamente seguro se instalar, levar todas as suas tralhas criativas para um squat (cujo sistema tecnicamente não existe mais aqui e sim o “anti-squat”, uma permanência provisória, com contrato, evitando a ocupação informal), pois a Holanda não é mais a mesma de antes. Queria muito ter tempo para pesquisar esta área das políticas de habitação e documentar para os meus amigos brasileiros todas as soluções alternativas de uso da cidade que acontecem por aqui.

Diz-se que nos anos 70 e 80 a vida artística neste país era muito mais prolífica e audaciosa. No entanto, mesmo hoje – quando todos os artistas locais reclamam da falta de recursos – para uma carioca que chegou há 5 anos atrás, como eu, ser artista na Holanda é ser um freelancer com uma infraestrutura que jamais se imaginou no Brasil. Existem subsídios e apoios de todas as formas. O artistas pode nunca se tornar um popstar, mas vive decentemente, em moradias ‘humildes’ subsidiadas, (cujo padrão de qualidade se equipara ao nível da moradia de classe média no Brasil) como um profissional como outro qualquer.

Finalmente, 6 meses depois de conseguir um trampo como designer gráfica, posso escolher onde, qual espaço alugar. E mesmo assim não é fácil. Muitos espaços bons e confortáveis já estão obviamente ocupados. Foi uma bela coincidência que recentemente conseguimos ecnontrar um estúdio de criação que está perto dos nossos sonhos. Foi durante um vernissage no Quartair que nos abordaram perguntando o nosso interesse em alugar uma sala vaga no térreo. Esta sala tem porta dupla, metade dela tem um pé direito de 5 metros e a outra metade uns 2.5 m. Uma área de 92 metros quadrados. Nossa reação foi “Sim, queremos alugar agora”. Apenas duas semanas antes eu alugara um estúdio num anti-squat, na nossa rua, cuja planta não me era tão conveniente, mas já tinha assinado contrato. Cancelei na semana seguinte. Mike vai cancelar o contrato dele, de mais de 6 anos, no DCR. Tirando um peso das costas, depois de inúmeras tentativas de comunicação com os administradores locais.

galerie20220groot

O Quartair, é um um dos poucos espaços realmente experimentais e auto-geridos em Haia. Funciona como um complexo, além dos estúdios, eles organizam exposições no salão principal, e todo tipo de evento  Outras cidades como Rotterdam e Amsterdam estão cheias destas iniciativas. Uma delas, é o Kunst en Complex, no porto de Rotterdam. Fábrica desativada, que vários artistas ocuparam desde 1981.

Estes exemplos não se vêem no Brasil por dois motivos a meu ver. De um lado não existe uma visão de que edifícios vazios podem ser re-ocupados por preços irrisórios para projetos alternativos ou sem fins lucrativos. Por outro lado, os artistas brasileiros, de uma forma geral, não conhecem ou nem buscam estas soluções que podem propiciar o local e o ambiente de convívio com a arte, sendo iniciados e geridos por eles mesmos. Eu me incluo aí, não conheço qualquer exemplo no Brasil, de alguma organização do gênero e não saberia iniciar eu mesma, do zero, um espaço que exista pura e simplesmente para criação artística. Mas este seria sim, um dos meus sonhos mais caros. E este é um sonho compartilhado com o Mike também.

Ansiedade ante a Sala do Movimento

12 de janeiro de 2014 § Deixe um comentário

Enquanto preparo uma nova instalação no MARRES, em Maastricht – onde estou tendo a maior oportunidade artística combinada com uma mordomia jamais experienciada na vida – morro de medo…

Cada projeto meu se relaciona diretamente com o espaço em que será exposto. Na realidade o espaço é o meu trabalho, o que vai determinar as interações, o comportamento e a coreografia do público. Este é meu foco, mais do que os materiais ali instalados.  E portanto tento equilibrar a quantidade de materiais que introduzo, com a liberdade de trânsito dos visitantes/participantes. Claro que o resultado visual me é muito caro, porém o mais importante é minha proposta, a maleabilidade física, a descoberta do corpo de si e dos outros.

MARRES01

Quando cheguei ao MARRES semana passada, sabia que precisaria de algum tempo para meditar, e poder finalizar o trabalho. Há meses planejando à distância, modelando o 3D no computador e testando os materiais comprados, finalmente eu pude entrar na sala, sentir suas dimensões (apesar de sabe-las, não sabia como seriam, na sala crua, de janelas abertas). O MARRES situa-se num edifício antigo, muito bem conservado e muito fino. Aos fundos, o jardim se insinua pela janela. O espaço é realmente impecável.

MARRES04

Quero terminar o mais cedo possível. Tenho na prática 6 dias de montagem; toda a assistência do mundo; e volta e meia, alguns pitacos do curador, que parece ser um cara bacana e engraçado. Sabemos que este foi um trabalho encomendado. Por um lado existe uma agenda, a questão da depressão de inverno, e por outro, eu tenho bastante liberdade de criação. O curador abertamente fala de suas ideias e dúvidas quanto à exposição. Brinca com minha proposta, as vezes me provoca, mas tento não levar a sério. O clima é tranquilo. Eles confiam em mim. Eu que às vezes não confio em mim.

MARRES02

Às vezes voltam os medos e angústias do tempo no Artscience. Parece que já faz muito tempo. Mas há 7 meses atrás, estava eu lá, tensa, indecisa, de fato apavorada. Além do que, estava sem qualquer condição financeira para viabilizar meu projeto final. Curiosamente hoje as coisas melhoraram. Consegui um emprego, pude adiantar todos os gastos desta instalação e mais, esta instituição é grande, séria – não fazem economia.

MARRES03

Passei três dias e duas noites montando, testando e desmontando a obra em Maastricht. Voltei para casa sábado a noite, para estar com meu amor neste domingo. Nós dois estamos superocupados, quase não relaxamos. Amanhã é segunda-feira e viajo o mais cedo possível para Maastricht. Mas no caminho preciso resolver a compra de umas peças; 150 conexões para meus cabos elásticos. Encomendei-as e vieram no tamanho errado. Falha de comunicação minha com o vendedor. Agora quero ir buscá-las no fornecedor em Utrecht, num tiro no escuro. Dando tudo errado, usarei a mesma solução de sempre (uma conexão metálica, mais bruta, que forjei na oficina de metais na KABK).

Culpo-me por não ter testado e decidido certas coisas antes. Mas estando à distância, meu medo era o de decidir por comprar tudo e os planos acabarem mudando ao chegar na montagem; aí tudo seria desperdiçado depois. Sempre esse medo! Tenho pensado deve ser um problema de quase todo projeto criativo. O artista, designer, arquiteto, ou qualquer criador, planeja algo, encomenda os materiais, mas na hora da execução muita coisa muda. E mudando um detalhe, muda-se o método de execução, o que acaba por mudar outras partes… e vice versa. Tento não  pensar que desperdicei, que vou acabar usando as sobras num projeto futuro. Mas o fato é que já gastei uns 200 euros em materiais que não serão usados agora. Deve ser normal provavelmente. Minha experiência é muito curta para julgar. E meu bolso muito inexperiente também. Se tivesse um estúdio de criação, já o saberia. E certamente teria bastante coisa entulhada, sobras, tudo que acaba de lado. Não chamar tudo que sobra de desperdício é meu único consolo. Detesto desperdício. Saber lidar com erros também é importante. As vezes o material adquirido é muito diferente daquele antes imaginado. Todas estas imprevisibilidades fazem parte.

Fora isso, me falta foco. Durante a montagem eu começo e interrompo várias etapas, misturo as atividades, e não consigo delegar tarefas. Me culpo continuamente. E a auto flagelação não ajuda nada, tomar pequenas decisões nessas horas fica ainda mais difícil. Não consigo decidir a cor das paredes, uma pergunta constante de toda a equipe do MARRES. Mas não quero me arrepender depois… Então aguardo o teste de luz, aguardo outras etapas serem finalizadas.

Não sei se é só uma questão de experiência. Enfim, durante um tormento e outro, comecei a ler entrevistas com Ernesto Neto, na esperança de encontrar na experiência dele, algum insight sobre as questões técnicas, das instalações de escala grande, e interativas (minhas preocupações, quanta responsabilidade! Que angústia!) Acabei encontrando bons depoimentos e agumas semelhanças. Descobri também um pouco mais de seu background e seu pensamento. O cara é bom.

Todos me dizem, “confia!”, “você já o fez outras vezes, por que não conseguiria agora?”. Realmente. Mas não sei o que é. Não sei se isso acontece a todos os artistas montando uma obra nova. Ainda não estive com todos os artistas dessa expo. Sempre me comparo. E sempre temo que os outros notem o meu medo. Mas cada caso é um caso. Ainda tenho 4 dias de trabalho pela frente. Durmo em Maastricht a semana toda, num belo quarto, só pra mim. O lance é perseverança e concentração! Fazer as malas e partir!

Volkspaleis

10 de setembro de 2013 § Deixe um comentário

Um evento da galeria West e que expôe diversos artistas durante um mês. Abertura com filmes de Reynold Reynolds (EUA, 1966) durante a noite dos museus (Museumnacht 2013). Que espaço incrível, uma antiga usina de energia de Haia.

O corpo consciente

27 de agosto de 2013 § Deixe um comentário

Estou confirmada como artista participante deste workshop em Paris! The Conscious Body 2

De 30 de setembro a 6 de outubro, estaremos reunidos, 10 cientistas e 10 artistas, para discutir o processo cognitivo de bailarinos e a empatia da platéia (através dos neurônios espelho).

No Rio

12 de agosto de 2013 § Deixe um comentário

Estou no Rio. Revendo os amigos, renovando documentos para um visto na Holanda e acima de tudo, passando tempo com a família. Dentre os pontos altos e baixos da viagem estou revendo arte, arquitetura e políticas urbanas. Quis fazer uma lista do que me encanta e do que me entristece nesta cidade.

Sobe: Chelpa Ferro, Ronald Duarte, galeria Progetti

Desce: o mau estado das instalações do Planetário carioca, na Gávea. Monitores de sobra e manutenção de menos. Em pleno mês de férias quando visitei, julho, a cúpula principal “estava em manutenção”. Seja o que for, um conserto deveria ser realizado à noite ou em poucos dias, para atender ao máximo o público. A cúpula principal fechada nas férias demonstra falha de planejamento. Isso sim.

Sobe: Casa do Saber, sua missão e sua programação intensa – impressa num pequeno e belo catálogo semestral (só faltou um calendário ali) e disponível no site.

Desce: o mau estado e mau uso do Palácio Itamaraty, belíssimo edifício no centro da cidade que – devidamente guardado por suas atividades oficiais e extra nacionais – não permite a chance de ser apreciado e aproveitado, nem àqueles poucos que o visitam durante a semana. Os arredores do Itamaraty são também hostis, o lado negligenciado do Centro antigo, próximo à Central do Brasil, que mais afasta do que atrai os visitantes.

Sobe: O Dança em Foco, que começa esta semana e oferece uma programação vasta e acessível no Cacilda Becker e na Maison de France

Desce: as calçadas, o asfalto e o estressante tráfego no Rio

Cultive-se!

10 de março de 2013 § Deixe um comentário

Screen Shot 2013-03-10 at 6.11.08 PM

Este vídeo me fez mais confiante das coisas em que tenho acreditado e apostado como mais do que “estilo” de vida. Deixemos de ser vítima de um mecanismo alucinado, onde somos ao mesmo tempo escravos e consumidores. Sem poder de escolha, vítimas de um mercado que dita o que somos, o que comemos, o que gostamos e o que descartamos, em nome de uma tal liberdade.

Petite Mort

8 de fevereiro de 2013 § Deixe um comentário

Nos últimos tempos percebi o pouco que eu conhecia da dança, do balé, do teatro, Mas mesmo assim tenho os meus palpites. Esta peça de Jiri Kylián me parece um dos trabalhos mais precisos que já vi.

Tempo

9 de dezembro de 2012 § 2 Comentários

IMG_0055

Comecei hoje o projeto da coreógrafa Marina Mascarell no Korzo. Ficaremos estes dois meses (auge do inverno!) trabalhando neste estúdio na foto, no belíssimo teatro re-inaugurado ano passado, no centro em Haia.
Estou feliz de participar como cenógrafa e acompanhar de perto o processo de criação de dança, de alguém cujo trabalho eu admiro muito. O projeto chama-se “A Irrealidade do Tempo.” Aguardem mais updates!

reanimando

22 de novembro de 2012 § Deixe um comentário

Duas versões de quase todas as idades da minha vida em 14 frames. Quando der tempo, eu faço 1 frame por ano.

reanimando

 

E Marina AAAAbramovic:

 

E o Balé triádico:

Animei todos hoje. O Schlemmer eu comecei ontem.

Onde estou?

Você está navegando atualmente a Arte categoria em Na Holanda.