Ansiedade ante a Sala do Movimento

12 de janeiro de 2014 § Deixe um comentário

Enquanto preparo uma nova instalação no MARRES, em Maastricht – onde estou tendo a maior oportunidade artística combinada com uma mordomia jamais experienciada na vida – morro de medo…

Cada projeto meu se relaciona diretamente com o espaço em que será exposto. Na realidade o espaço é o meu trabalho, o que vai determinar as interações, o comportamento e a coreografia do público. Este é meu foco, mais do que os materiais ali instalados.  E portanto tento equilibrar a quantidade de materiais que introduzo, com a liberdade de trânsito dos visitantes/participantes. Claro que o resultado visual me é muito caro, porém o mais importante é minha proposta, a maleabilidade física, a descoberta do corpo de si e dos outros.

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Quando cheguei ao MARRES semana passada, sabia que precisaria de algum tempo para meditar, e poder finalizar o trabalho. Há meses planejando à distância, modelando o 3D no computador e testando os materiais comprados, finalmente eu pude entrar na sala, sentir suas dimensões (apesar de sabe-las, não sabia como seriam, na sala crua, de janelas abertas). O MARRES situa-se num edifício antigo, muito bem conservado e muito fino. Aos fundos, o jardim se insinua pela janela. O espaço é realmente impecável.

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Quero terminar o mais cedo possível. Tenho na prática 6 dias de montagem; toda a assistência do mundo; e volta e meia, alguns pitacos do curador, que parece ser um cara bacana e engraçado. Sabemos que este foi um trabalho encomendado. Por um lado existe uma agenda, a questão da depressão de inverno, e por outro, eu tenho bastante liberdade de criação. O curador abertamente fala de suas ideias e dúvidas quanto à exposição. Brinca com minha proposta, as vezes me provoca, mas tento não levar a sério. O clima é tranquilo. Eles confiam em mim. Eu que às vezes não confio em mim.

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Às vezes voltam os medos e angústias do tempo no Artscience. Parece que já faz muito tempo. Mas há 7 meses atrás, estava eu lá, tensa, indecisa, de fato apavorada. Além do que, estava sem qualquer condição financeira para viabilizar meu projeto final. Curiosamente hoje as coisas melhoraram. Consegui um emprego, pude adiantar todos os gastos desta instalação e mais, esta instituição é grande, séria – não fazem economia.

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Passei três dias e duas noites montando, testando e desmontando a obra em Maastricht. Voltei para casa sábado a noite, para estar com meu amor neste domingo. Nós dois estamos superocupados, quase não relaxamos. Amanhã é segunda-feira e viajo o mais cedo possível para Maastricht. Mas no caminho preciso resolver a compra de umas peças; 150 conexões para meus cabos elásticos. Encomendei-as e vieram no tamanho errado. Falha de comunicação minha com o vendedor. Agora quero ir buscá-las no fornecedor em Utrecht, num tiro no escuro. Dando tudo errado, usarei a mesma solução de sempre (uma conexão metálica, mais bruta, que forjei na oficina de metais na KABK).

Culpo-me por não ter testado e decidido certas coisas antes. Mas estando à distância, meu medo era o de decidir por comprar tudo e os planos acabarem mudando ao chegar na montagem; aí tudo seria desperdiçado depois. Sempre esse medo! Tenho pensado deve ser um problema de quase todo projeto criativo. O artista, designer, arquiteto, ou qualquer criador, planeja algo, encomenda os materiais, mas na hora da execução muita coisa muda. E mudando um detalhe, muda-se o método de execução, o que acaba por mudar outras partes… e vice versa. Tento não  pensar que desperdicei, que vou acabar usando as sobras num projeto futuro. Mas o fato é que já gastei uns 200 euros em materiais que não serão usados agora. Deve ser normal provavelmente. Minha experiência é muito curta para julgar. E meu bolso muito inexperiente também. Se tivesse um estúdio de criação, já o saberia. E certamente teria bastante coisa entulhada, sobras, tudo que acaba de lado. Não chamar tudo que sobra de desperdício é meu único consolo. Detesto desperdício. Saber lidar com erros também é importante. As vezes o material adquirido é muito diferente daquele antes imaginado. Todas estas imprevisibilidades fazem parte.

Fora isso, me falta foco. Durante a montagem eu começo e interrompo várias etapas, misturo as atividades, e não consigo delegar tarefas. Me culpo continuamente. E a auto flagelação não ajuda nada, tomar pequenas decisões nessas horas fica ainda mais difícil. Não consigo decidir a cor das paredes, uma pergunta constante de toda a equipe do MARRES. Mas não quero me arrepender depois… Então aguardo o teste de luz, aguardo outras etapas serem finalizadas.

Não sei se é só uma questão de experiência. Enfim, durante um tormento e outro, comecei a ler entrevistas com Ernesto Neto, na esperança de encontrar na experiência dele, algum insight sobre as questões técnicas, das instalações de escala grande, e interativas (minhas preocupações, quanta responsabilidade! Que angústia!) Acabei encontrando bons depoimentos e agumas semelhanças. Descobri também um pouco mais de seu background e seu pensamento. O cara é bom.

Todos me dizem, “confia!”, “você já o fez outras vezes, por que não conseguiria agora?”. Realmente. Mas não sei o que é. Não sei se isso acontece a todos os artistas montando uma obra nova. Ainda não estive com todos os artistas dessa expo. Sempre me comparo. E sempre temo que os outros notem o meu medo. Mas cada caso é um caso. Ainda tenho 4 dias de trabalho pela frente. Durmo em Maastricht a semana toda, num belo quarto, só pra mim. O lance é perseverança e concentração! Fazer as malas e partir!

Mais uma residência artística, por favor

19 de outubro de 2013 § Deixe um comentário

Uma residência artística, por favor

Em Paris, The Conscious Body II

Uma semana, 10 artistas do corpo, 10 neurocientistas. Um workshop sobre o corpo, empatia com a plateia e o estado da arte da consciência corporal, sob os olhos da neurociência.

Foram dias intensos, de discussões, laboratório, brincadeiras, cooperação e excelentes almoços veganos. No domingo dia 06/10 nos apresentamos para um público generoso, que se entregou e atuou no palco que montamos, sem cadeiras, sem plateia.

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A França também é bem diferente da Holanda. Qualquer pão é maravilhoso, a comida em geral, não sei compara à da Holanda… eles me diziam isso todos os dias: Sim, Ludmila, você está na França. De fato ter me formado e me desvencilhado do Artscience tem se mostrado um destino mais do libertador. O mundo não se resume mais a Academia Real de Arte.

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Flexor

31 de julho de 2013 § Deixe um comentário

Registro da semana de 6 a 13 de julho (KABK’s graduation show 2013).

 

Depois de 20 dias de montagem, exame final, cerimônia de entrega de diploma, completamos uma semana de exposição na KABK. Não sei quantas pessoas por dia, entram aquele prédio, entre as 12 e as 21 horas e encontram mais de 250 exposições.
Minha experiência com o comitê de examinação foi dura. Penosa. Mas depois de uma semana de contato com o público, pude testar e aprender mais sobre o meu próprio trabalho.

Artscience preview

9 de maio de 2013 § Deixe um comentário

Artscience preview

Exposição em uma semana!

Testando webfliers.

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Como melhorar a concentração

6 de março de 2013 § Deixe um comentário

Tenho ficado mais e mais horas com o laptop, seja no meu colo, deitada na cama, no sofá, na pia da cozinha e até no banheiro. Levo-o comigo aonde vou. Sento com ele na faculdade. Também lá posso utilizar um desktop, e mais confortavelmente fico mais horas. Às vezes só saio da sala de computadores às 21:30, por que os funcionários estão fechando as portas. Respondo meus emails quase que instanteneamente, trabalho em projetos gráficos meus ou de outrém, escrevo minha tese ou escrevo para três blogs diferentes, tenho evitado ficar muito tempo no facebook; leio as notícias de diferentes canais, tento escaneá-las ao me próprio gosto; tento saber mais, ler mais, sempre mais etc etc. O computador é minha ferramenta, minha extensão e meu cérebro. Também tenho um caderno, pequeno, compacto, sem pauta; precioso recurso para o pensamento. Carrego todos e faço uso de todos ao mesmo tempo, sem critério. Faço tudo numa tal urgência que tem me dado a sensação de que não tenho controle das coisas que eu mesma impus pra mim. Percebo que a vida requer momentos de nada, ou de quase nada, em que a mente possa se reencontrar.

Preciso distinguir o que é realmente urgente e aprender a ignorar tudo aquilo que não importa no presente. E não aceitar mais compromissos. Fazer escolhas! Quem faz de tudo não faz nada. No fim das contas, dedico muito pouco tempo para o meu principal projeto, minha pesquisa e o desenvolvimento do meu projeto final. Sinto-me frustrada, porque parece que não tenho controle do meu maior objetivo. E de fato aprendi numa aula nova, (excelente curso que a academia impôs para os graduandos, Arte do Negócios, ou lições de empreendedorismo para artistas) que o artista pode se perder, consumindo toda sua energia em infinitas comunicações, contabilidade, network, tudo pelo precioso trabalho – o qual eventualmente só vai se concretizar em poucas horas de concentração, num contexto que precisa ser criado e preservado.

Às vezes minha mente funciona muito bem de manhã cedinho. Posso ler algum texto mais denso. Às vezes acordo no meio da noite, sem razão. (Talvez seja a digestão, de um jantar que só pude ter ao chegar em casa, por volta das onze da noite. E com a idade, parece, o corpo leva mais tempo mesmo. Ouço minha barriga trabalhar. Penso que estou comendo demais, na pressão de tempo, de espaço, de grana). Ponho-me a trabalhar mentalmente, planejar o dia ou resolver alguma questão do dia anterior, deitada no escuro.

Ah, como gostaria de pensar menos! Apenas aceitar mais as coisas como são e não me preocupar tanto. Quem sabe um dia vou perceber que todo este esforço foi de fato monumental e que fiz muito mais do que eu pensava.

Também tenho lido muito pouco os livros que gostaria de ler. Quantas horas são necessárias para o trabalho criativo! Mas para se trabalhar nelas, a mente também precisa de espaço. E como buscar este espaço, uma certa disciplina, é que eu gostaria de aprender. Às vezes penso que um esporte me ajudaria a me concentrar. Mas nem isso consegui resolver ainda. E não fumo, mas creio que os fumantes se beneficiam em parte pelo fato de fazerem pequenas pausas para um cigarro. Penso que pra cada pessoa deve haver uma solução diferente. É preciso descobrir seu próprio método e também reinventa-lo de tempos em tempos. Dizem que é bom ouvir o coração.

Expanded Performance

25 de dezembro de 2012 § Deixe um comentário

Dia 16 apresentei meu projeto na série “Expanded Performance”, do Stroom Den Haag, dia também do finissage. Levei meu instrumento de comunicação táctil. Eu sentada de um lado, convidava os participantes a sentarem-se no outro.

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Quando propus esta versão para o Stroom, decidi entitula-lo “Approximation” e cada vez mais gosto do nome. Tenho sempre dificuldade para decidir títulos…

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A experiência acontece de olhos fechados, mãos conectadas ao sistema de elásticos que controlam o movimento dos dedos. Eu dou os primeiros toques, o participante deve seguir, transferir o meu movimento de uma mão para a outra. Formando um circuito de toques que são espelhados de cada lado da estrutura.

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Devo ter recebido pelo menos umas quinze pessoas. Apenas uma senhora pediu para interromper o experimento, alegando dificuldade e quase me passou um pito. Sim, existe um grau de aprendizado nesse trabalho, que eu também espero, quero desenvolver nos participantes. Mas a maioria das pessoas topou o desafio e achou graça.

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Fotos do Mike Rijnierse.

Cultural Hacking

23 de novembro de 2012 § 2 Comentários

Gerei este gif a partir do registro da minha coreorafia para 12 pessoas pelo prédio da KABK (originalmente um video de 20 minutos)

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Cultural Hacking foi um workshop de três semanas com Arthur Elsenaar. A noção de “hacking” foi pensada e discutida muito além do domínio dos computadores ou da Internet. “To hack” é modificar, recontextualizar, repropor. E o que eu propus foi interferir no trânsito da academia, a partir de um corredor vivo, que se movia por uma única regra: a última pessoa de cada linha toma o primeiro lugar da linha oposta. Assim caminhamos, incorporando o público que acidentalmente passava e por vezes se juntava a nós.

Cinestesia

11 de novembro de 2012 § Deixe um comentário

Me perdoem a ausência por aqui. Até tenho escrito bastante, mas não sobre a vida, ou sobre a Holanda… Até criei outro blog esta semana! Agora em inglês e dedicado à minha tese de graduação sobre propriocepção e cinestesia. Envolve um pouco de performance, dança, corpo humano, neurologia…

Propriocepção também denominada como cinestesia, é o termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Este tipo específico de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de diversas atividades práticas. Resulta da interação das fibras musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de informações táteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno.

Inteligência corporal-cinestésica

Segundo a teoria das múltiplas inteligências, a Inteligência corporal-cinestésica refere-se as habilidades que atletas e artistas (especialmente dançarinos) desenvolvem para a coordenação desejada de movimentos precisos necessários para a execução de sua técnicas.

Um problema sério no desenvolvimento dessa inteligência é que segundo Howard Gardner a maioria das escolas se satisfazem com desempenhos mecânicos, ritualizados ou convencionalizados, isto é, desempenhos que desenvolvem as habilidades apenas levando o aluno a repetir o que o professor modelou.

Uma das técnicas mais usadas para o desenvolvimento da cinestesia é vendar os alunos para que com a ausência da visão eles se focalizem na cinestesia no uso de suas técnicas. Outro recurso muito utilizado é o uso de um ou mais espelhos ao redor do aluno durante os exercícios ou filmar o treinamento para que a visão sirva como feedback de como estão sendo feitos os movimentos.

Sensores

O conjunto das informações dadas por esses receptores sensoriais nos permitem, por exemplo, desviar a cabeça de um galho, mesmo que que não se saiba precisamente a distância segura para se passar, ou mesmo o simples fato de poder tocar os dedos do pé e o calcanhar com os olhos vendados, além de permitir atividades importantes como andar, coordenar os movimentos responsáveis pela fala, segurar e manipular objetos, manter-se em pé ou posicionar-se para realizar alguma atividade.

A propriocepção é efetiva devido à presença de receptores específicos que são sensíveis a alterações físicas, tais como variações na angulação de uma articulação, rotação da cabeça, tensão exercida sobre um músculo, e até mesmo o comprimento da fibra muscular.

Alguns dos sensores responsáveis por tais sensações são:

  • Órgãos tendinosos de Golgi, que são sensíveis à tração exercida nos tendões indicando a força que está sendo exercida sobre a musculatura, impedindo lesões.
  • Fuso muscular, que se divide em dois subtipos, fuso neuromuscular de bolsa, e de cadeia nuclear, sendo estes responsáveis pelo comprimento da fibra muscular no repouso(postura) e durante o movimento.
  • O labirinto, também conhecido por sistema vestibular, localizado no ouvido junto à cóclea, é sensível a alterações angulares da cabeça. As alterações podem ser no sentido vertical (rotação vertical, deslocamento do queixo para cima e para baixo) ou horizontal (rotação horizontal ou lateral, deslocamento do queixo lateralmente ou seja, direita e esquerda). Este sistema também atua na identificação da posição de todo o corpo, permitindo que alguém saiba se está deitado, em pé ou em qualquer outro posicionamento espacial. Perturbações no sentido de equilíbrio podem levar a correções inadequadas, que em casos extremos podem impedir a manutenção da posição vertical, além de causar vertigem e náusea.

Hapt me

31 de outubro de 2012 § Deixe um comentário

Registros de uma performance participativa, apresentada aqui, no final de setembro. A tal prova de recuperação foi enfim para o bem. Tive boas reações, boas descobertas. Várias pessoas quiseram testar meu aparato de comunicação táctil (não sei como chama-lo ainda; colocar o título sempre me dá mais trabalho). Tenho chamado por enquanto de Hapt me, em referência a haptics (como traduzir o termo para o português? bom, tactilidade) e com ecos de Caetano Veloso.

Foram testadas duas versões, tanto na posição dos elásticos, quanto no set up de luz, como pode ser visto nas fotos. Fora isso, pode ser usado para uma experiência de leitura facial mútua, ou para um diálogo de quatro mãos. Uma experência íntima para quem vê de fora, mas para quem participa torna-se jogo de adivinhação, com a chance de você confundir as bordas do seu próprio corpo.

É importante lembrar que enquanto este trabalho era desenvolvido, acontecia por uma coincidência feliz, a oficina sensorial de inauguração do ano do Artscience, Sensing Sensations, que já devo ter mencionado por aqui. E que foi coordenada pela dupla de convidados, Caro Verbeek e TeZ.

Como este departamento é gerido com amor, os alunos sempre iniciam o ano mergulhando numa oficina de quase dois meses, três vezes por semana, seis horas diárias. Calouros, veteranos e alunos de mestrado recebem o mesmo  tratamento e podem escolher entre duas oficina diferentes. Professores e artistas convidados também vêm frequentemente dar estas oficinas, o que ajuda a refrescar as relações dentro do departamento também.

O projeto deve serguir expandindo-se para outras partes do corpo, outros movimentos, novos diálogos. Já devo ter mencionado por aqui o meu fascínio por playgrounds. Quando comecei a experimentar com estes materiais, elásticos, cordas e madeira, tinha em mente instalar um espaço inteiro onde as pessoas, aos pares, percorreriam uma série de objetos relacionais, sentindo a presença ou o movimento do outro a uma certas distâncias. O potencial do tato foi mais um aspecto de que me dei conta neste período. Muitos caminhos se revelaram, em termos de literatura e referências artísticas. Encontrei por exemplo, o manifesto Tactilista, do Marinetti, que é uma delícia.

(…)

Quasi tutti propongono un ritorno alla vita selvaggia, contemplativa, lenta, solitaria, lungi dalle città aborrite.


Quanto a noi Futuristi, che affrontiamo coraggiosamente il dramma spasimoso del dopo-guerra, siamo favorevoli a tutti gli assalti rivoluzionari che la maggioranza tenterà. Ma alla minoranza degli artisti e dei pensatori, gridiamo a gran voce:
– La Vita ha sempre ragione! I paradisi artificiali coi quali pretendete di assassinarla sono vani. Cessate di sognare un ritorno assurdo alla vita selvaggia. Guardatevi dal condannare le forze superiori della Società e le meraviglie della velocità. Guarite piuttosto la malattia del dopo-guerra, dando all’umanità nuove gioie nutrienti. Invece di distruggere le agglomerazioni umane, bisogna perfezionarle. Intensificate le comunicazioni e le fusioni degli esseri umani. Distruggete le distanze e le barriere che li separano nell’amore e nell’amicizia. Date la pienezza ela bellezza totale a queste due manifestazioni essenziali della vita: l’Amore e l’Amicizia.

(…)

Il Tattilismo
F.T.Marinetti

Milão, 1921

Mais mulher, por favor

27 de setembro de 2012 § Deixe um comentário

Momentos de revelação. Fúria feminista, não sei. Levei tempo para confiar nas minhas ideias e persegui-las. Acho que foi saturno. Previsto até outubro. Saturno, ou Chronos, engolidor de filhos. A melancolia. Enfim, o verão por aqui já passou. Três meses de férias. Estive no Brasil, revi a vida por lá, a família, os amigos. Voltei. Não pude escrever por aqui neste ínterim.

Voltei para meu último ano de estudante de arte e de muita expectativa. Amanhã acontece a minha prova de recuperação. E só hoje a tarde consegui resolver várias questões criativas e técnicas, que me custaram noites e dias e euros de pesquisa.

Melancolia, de Albert Dürer

Ontem a noite, depois de testar meu projeto com dois amigos, não cheguei a resultado nenhum. Pelo contrário, me perdi. A noite, em casa, num momento de frustração completa, resolvi relaxar e espiar o trabalho de uma artista que conheci recentemente, a americana Daria Martin. Ela faz filmes num formato que podemos chamar de tradicional, 16mm, com um acabamento impecável. Ela estuda o corpo em relação aos objetos. O movimento no tempo. Um pouco do que venho pesquisado. E foi vendo trechos dos seus filmes que tive um estalo, a solução para a peça que mostrarei amanhã de manhã.

Resolvi fazer eu mesma uma performance com um dos aparatos que eu construí esses dias. Também chamei um colega para atuar comigo, como se meu espelho, que ao mesmo tempo é meu oposto. Treinamos hoje a tarde, conversamos. Ele estudou teatro. Tirou de letra e ainda me deu excelentes toques. Fizemos um ensaio para uma platéia de umas 16 pessoas. De repente, às quatro horas da tarde, eu estava pronta, muito antes da escola fechar (há três semanas que eu fechava a escola, todo dia, às dez da noite). E ainda por cima, confiante, estado que não conheço há meses.

Para explicar o projeto todo eu teria que contextualizar as coisas por aqui. Comecei um curso sobre “os outros sentidos”, aqueles considerados inferiores, desde Aristóteles: o olfato, o paladar e o tato. Vivemos uma cultura panóptica. Trouxeram palestrantes incríveis, como uma senhora antropóloga especialista em cinestesia como forma de aprendizado, leia-se, a dança como forma de pensar, Yolanda van Ede. E muitos outros que vieram e se foram num intervalo de três semanas. Dei-me conta de como faltavam mulheres dando aula no meu curso. Que refresco! Adoro e admiro os professores homens, mas quando surge uma professora brilhante, de personalidade forte e ainda pessoa fina, é como um bálsamo, umedecendo a aridez do Artscience. Sem contar, fiquei conhecendo outra figura sensorial, a Caro Verbeek, professora fixa do Artscience, mas que só hoje fui conhecer. Especialista em olfato e toque. Belíssima. E a Lígia Clark, gente? Desconhecida por aqui…

Buscando mais Daria Martin, agorinha mesmo descobri a dona Anna Halprin. Supostamente uma revolucionária professora de dança, que nos seus oitenta e tantos anos atua com gente de todas as idades – bem como Angel Vianna, pois é. É impressionante, quanto mais a gente sabe, mais coisas a gente descobre que não sabe. Poço sem fundo! Segundo João Moreira Salles, tudo que a gente pesquisa com profundidade se revela mais e mais interessante e belo. Já sei o qual vai ser minha tese de formatura! Fica pra outro post.

Viva a inteligência humana!

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