Mais uma residência artística, por favor

19 de outubro de 2013 § Deixe um comentário

Uma residência artística, por favor

Em Paris, The Conscious Body II

Uma semana, 10 artistas do corpo, 10 neurocientistas. Um workshop sobre o corpo, empatia com a plateia e o estado da arte da consciência corporal, sob os olhos da neurociência.

Foram dias intensos, de discussões, laboratório, brincadeiras, cooperação e excelentes almoços veganos. No domingo dia 06/10 nos apresentamos para um público generoso, que se entregou e atuou no palco que montamos, sem cadeiras, sem plateia.

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A França também é bem diferente da Holanda. Qualquer pão é maravilhoso, a comida em geral, não sei compara à da Holanda… eles me diziam isso todos os dias: Sim, Ludmila, você está na França. De fato ter me formado e me desvencilhado do Artscience tem se mostrado um destino mais do libertador. O mundo não se resume mais a Academia Real de Arte.

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Yarima e seus filhos norte-americanos

1 de setembro de 2013 § Deixe um comentário

@ BBC News: My mother, the Amazonian tribeswoman

Fiquei fascinada com a história desta família formada numa tribo Yanomami – o marido, um antropólogo americano, e a mãe, uma jovem da Amazônia venezuelana.

Cinestesia

11 de novembro de 2012 § Deixe um comentário

Me perdoem a ausência por aqui. Até tenho escrito bastante, mas não sobre a vida, ou sobre a Holanda… Até criei outro blog esta semana! Agora em inglês e dedicado à minha tese de graduação sobre propriocepção e cinestesia. Envolve um pouco de performance, dança, corpo humano, neurologia…

Propriocepção também denominada como cinestesia, é o termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Este tipo específico de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de diversas atividades práticas. Resulta da interação das fibras musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de informações táteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno.

Inteligência corporal-cinestésica

Segundo a teoria das múltiplas inteligências, a Inteligência corporal-cinestésica refere-se as habilidades que atletas e artistas (especialmente dançarinos) desenvolvem para a coordenação desejada de movimentos precisos necessários para a execução de sua técnicas.

Um problema sério no desenvolvimento dessa inteligência é que segundo Howard Gardner a maioria das escolas se satisfazem com desempenhos mecânicos, ritualizados ou convencionalizados, isto é, desempenhos que desenvolvem as habilidades apenas levando o aluno a repetir o que o professor modelou.

Uma das técnicas mais usadas para o desenvolvimento da cinestesia é vendar os alunos para que com a ausência da visão eles se focalizem na cinestesia no uso de suas técnicas. Outro recurso muito utilizado é o uso de um ou mais espelhos ao redor do aluno durante os exercícios ou filmar o treinamento para que a visão sirva como feedback de como estão sendo feitos os movimentos.

Sensores

O conjunto das informações dadas por esses receptores sensoriais nos permitem, por exemplo, desviar a cabeça de um galho, mesmo que que não se saiba precisamente a distância segura para se passar, ou mesmo o simples fato de poder tocar os dedos do pé e o calcanhar com os olhos vendados, além de permitir atividades importantes como andar, coordenar os movimentos responsáveis pela fala, segurar e manipular objetos, manter-se em pé ou posicionar-se para realizar alguma atividade.

A propriocepção é efetiva devido à presença de receptores específicos que são sensíveis a alterações físicas, tais como variações na angulação de uma articulação, rotação da cabeça, tensão exercida sobre um músculo, e até mesmo o comprimento da fibra muscular.

Alguns dos sensores responsáveis por tais sensações são:

  • Órgãos tendinosos de Golgi, que são sensíveis à tração exercida nos tendões indicando a força que está sendo exercida sobre a musculatura, impedindo lesões.
  • Fuso muscular, que se divide em dois subtipos, fuso neuromuscular de bolsa, e de cadeia nuclear, sendo estes responsáveis pelo comprimento da fibra muscular no repouso(postura) e durante o movimento.
  • O labirinto, também conhecido por sistema vestibular, localizado no ouvido junto à cóclea, é sensível a alterações angulares da cabeça. As alterações podem ser no sentido vertical (rotação vertical, deslocamento do queixo para cima e para baixo) ou horizontal (rotação horizontal ou lateral, deslocamento do queixo lateralmente ou seja, direita e esquerda). Este sistema também atua na identificação da posição de todo o corpo, permitindo que alguém saiba se está deitado, em pé ou em qualquer outro posicionamento espacial. Perturbações no sentido de equilíbrio podem levar a correções inadequadas, que em casos extremos podem impedir a manutenção da posição vertical, além de causar vertigem e náusea.

Mais mulher, por favor

27 de setembro de 2012 § Deixe um comentário

Momentos de revelação. Fúria feminista, não sei. Levei tempo para confiar nas minhas ideias e persegui-las. Acho que foi saturno. Previsto até outubro. Saturno, ou Chronos, engolidor de filhos. A melancolia. Enfim, o verão por aqui já passou. Três meses de férias. Estive no Brasil, revi a vida por lá, a família, os amigos. Voltei. Não pude escrever por aqui neste ínterim.

Voltei para meu último ano de estudante de arte e de muita expectativa. Amanhã acontece a minha prova de recuperação. E só hoje a tarde consegui resolver várias questões criativas e técnicas, que me custaram noites e dias e euros de pesquisa.

Melancolia, de Albert Dürer

Ontem a noite, depois de testar meu projeto com dois amigos, não cheguei a resultado nenhum. Pelo contrário, me perdi. A noite, em casa, num momento de frustração completa, resolvi relaxar e espiar o trabalho de uma artista que conheci recentemente, a americana Daria Martin. Ela faz filmes num formato que podemos chamar de tradicional, 16mm, com um acabamento impecável. Ela estuda o corpo em relação aos objetos. O movimento no tempo. Um pouco do que venho pesquisado. E foi vendo trechos dos seus filmes que tive um estalo, a solução para a peça que mostrarei amanhã de manhã.

Resolvi fazer eu mesma uma performance com um dos aparatos que eu construí esses dias. Também chamei um colega para atuar comigo, como se meu espelho, que ao mesmo tempo é meu oposto. Treinamos hoje a tarde, conversamos. Ele estudou teatro. Tirou de letra e ainda me deu excelentes toques. Fizemos um ensaio para uma platéia de umas 16 pessoas. De repente, às quatro horas da tarde, eu estava pronta, muito antes da escola fechar (há três semanas que eu fechava a escola, todo dia, às dez da noite). E ainda por cima, confiante, estado que não conheço há meses.

Para explicar o projeto todo eu teria que contextualizar as coisas por aqui. Comecei um curso sobre “os outros sentidos”, aqueles considerados inferiores, desde Aristóteles: o olfato, o paladar e o tato. Vivemos uma cultura panóptica. Trouxeram palestrantes incríveis, como uma senhora antropóloga especialista em cinestesia como forma de aprendizado, leia-se, a dança como forma de pensar, Yolanda van Ede. E muitos outros que vieram e se foram num intervalo de três semanas. Dei-me conta de como faltavam mulheres dando aula no meu curso. Que refresco! Adoro e admiro os professores homens, mas quando surge uma professora brilhante, de personalidade forte e ainda pessoa fina, é como um bálsamo, umedecendo a aridez do Artscience. Sem contar, fiquei conhecendo outra figura sensorial, a Caro Verbeek, professora fixa do Artscience, mas que só hoje fui conhecer. Especialista em olfato e toque. Belíssima. E a Lígia Clark, gente? Desconhecida por aqui…

Buscando mais Daria Martin, agorinha mesmo descobri a dona Anna Halprin. Supostamente uma revolucionária professora de dança, que nos seus oitenta e tantos anos atua com gente de todas as idades – bem como Angel Vianna, pois é. É impressionante, quanto mais a gente sabe, mais coisas a gente descobre que não sabe. Poço sem fundo! Segundo João Moreira Salles, tudo que a gente pesquisa com profundidade se revela mais e mais interessante e belo. Já sei o qual vai ser minha tese de formatura! Fica pra outro post.

Viva a inteligência humana!

Corpo Clark coletivo

3 de maio de 2012 § Deixe um comentário

Hoje descobri que estava seguindo os passos de Lygia Clark, sem sabe-lo. Constantemente entro nas crises existenciais sobre o sentido do meu trabalho, a mídia, a mensagem… Fico achando que estou por fora, por não seguir a tendência da minha escola, e da Holanda talvez como um todo, da mídia eletrônica-digital-híbrida. Coisa muito em voga no meu departamento aqui.

Não que eu seja contra, estética ou eticamente, muito pelo contrário. Confesso que às vezes me enjôo um pouco, do uso exagerado dos sensores, luzezinhas, projeções impressionantes que só fazem idiotizar o observador. Eu prefiro envolver o público completamente, prefiro compor a obra junto com os outros, e que todos a apreciem e não apenas um nicho. É outra relação. Talvez eu seja utópica, quero que a minha avó e que o meu vizinho participem e se transformem também. Não me preocupo com as paredes brancas, as reuniões sociais e as festas de abertura das grandes exposições. Elas também me enjoam.

Estaria eu com a mente nos anos setenta ainda? Lendo este texto aqui acho que sim. Me interesso pela experiência como um todo, física, psicológica e política. Mas ao mesmo tempo a experiência tem que ser dominada pelo participante, ativa e criativamente. Em outras palavras, jogando. Tem que valer a pena participar e tem que transformar as pessoas. Homo ludens é o meu palpite (ainda não terminei de ler, o livro mas é por aí) e não é por acaso que vim parar na Holanda.

Tenho buscado um nome, uma definição para o que faço, pois o clamar-se artista me incomoda. Não consigo aceitar e não sei dizer bem porque. Gosto quando os artistas que se definem com alguma sequência de nomes-ideias, que conceituam, sem dizer exatamente o que eles fazem. Lygia se dizia “propositora”. Eu estou caminhando para algo como compositora/coreógrafa de situações/experiências coletivas multisensoriais. Argh! que conversa datada! Disso eu sei, por isso continuo a elabora-lo.

E apesar de resistir muito à ideia, também percebo uma diferença profunda entre homens e mulheres em relação à produção artística. Admiro ambos sem distinção, mas posso discernir preocupações, estéticas, discursos e escolhas radicalmente diversos. Não opostos, mas sim, diferentes. E assim, sem querer me enquadrar num contexto específico, feminino, brasileiro, odara, ou qualquer outra coisa que o valha, tento encontrar o caminho que eu mesma ainda não defini.

Ano passado apresentei um trabalho sobre relações humanas e reprodução celular, onde os performers eram atados uns aos outros, numa primeira versão através de roupas e na segunda versão, apenas pelas posições físicas, que pesquisamos juntos para gerar tensão e significado. Eram oito participantes que chegam juntos, dividem-se em dois grupos de quatro, depois em quatro de dois e finalmente se tornam indivíduos, voltando a si mesmos. Falo um pouco  mais sobre o trabalho no meu site (ainda preciso escrever muito mais sobre os meus trabalhos!). Já a Lygia tem toda pesquisa sobre corpo, diálogos e percepção. Quando confiro sua obra fico perplexa com a convergência das minhas ideas com as dela. Preciso me adiantar. Um dia desses eu chego no século XXI.

Opticks

20 de dezembro de 2011 § Deixe um comentário

Enquanto o inverno chega pra ficar, os dias cada vez mais escuros, com uma chuva diária de granizo, a gente trabalha pesado num workshop sobre Light Design. Tem sido doses cavalares de informação, instalações e cores, quatro dias da semana, seis horas por dia. Hoje por exemplo, fizemos uma experiência de privação sensitiva: 30 minutos no breu total. Depois discutimos o trabalho de James Turrel e Olafur Eliasson.

Hoje também ouvi falar do efeito Ganzfeld (do alemão “campo completo”) e tantos outros efeitos causados pela luz ou sua ausência, no nosso sistema perceptivo. Vejo o quanto se tem a fazer apenas com a luz no espaço. Nesta quinta feira terei de apresentar um espaço que explore os processos da cor no nosso cérebro. Encontrei agora esta página de um artista sueco que criou uma câmara para a realização do experimento de Ganzfeld: Johan Eldrot.

Por coincidência também estou realizando um biscate esses dias, escaneando imagens para um livro sobre sinestesia na arte e na ciência. Um projeto inacabado de Frans Evers, um dos fundadores do meu curso, que faleceu ano passado. Tive em minhas mãos ontem, por exemplo, um tratado de ótica escrito pelo dr. Newton, publicado em 1704.

Fiquei fascinada pelas ilustrações. Postarei mais fotos do fascinante curso sobre luz em breve. Feliz natal para nós todos, seja inverno, seja verão para você.

Microscoop

28 de outubro de 2010 § Deixe um comentário

romã

romã

Estive me divertindo hoje no TactileLab com um microscópio que gera imagens e vídeos num clicar de um botão, e salva os arquivos para download via USB. Observamos, abobalhados, romãs, pimentas, bambu, cenoura, hervas…

erva indeterminada

erva chinesa indeterminada

Foi o primeiro dia em que tivemos o brinquedo nas mãos. A professora Cocky tinha acabado de adquirir e ainda nem sabia como a gente ia fazer pra puxar as fotos para um Mac. O microscoop só dizia que “tinha conexão pra PC” e a gente achou que podia não funcionar… Foi quando eu conectei o cabo no meu MacBook e pronto. Estava lá o drive, como qualquer outro estaria.

cenoura

cenoura

 

Artscience

31 de março de 2010 § Deixe um comentário

O que é arte? O que é ciência? São coisas que o meu curso não pretende explicar. A gente que deve perseguir. Aparentemente não esperam nada da gente. Só que experimentemos de tudo, tudo que não é permitido nos outros cursos.

Ficamos assim, digamos, pensando no que fazer da vida. Já que tudo é válido. Nada a ver com uma UFRJ, por exemplo, que frequentei tantos anos. Um abismo.

Arduino

7 de outubro de 2009 § 2 Comentários

Meu único motivo de frustraçao aqui na escola até agora, foi ter entrado numa oficina chamada “DIY Electronics” (para criarmos projetos eletrônicos/interativos/digitais-mecânicos) e não entender nada do assunto. A maioria da turma já teve um curso introdutório de eletrônica aqui mesmo na faculdade, são todos mais avançados. Então a professora não ensina as coisas a partir do zero. Dá uma palestra de uma hora, por aula, sobre hacking, robôs etc e depois a gente fica experimentando coisas com o material disponível.

Tento correr atrás, mas o tempo é curto. Outras aulas me tomam mais tempo. Chego em casa a noite, pego o trem todo dia de manhã. Estou procurando a literatura que ela me passou, mas ainda nada. Tive que comprar essa plaquinha aí da foto pra começar algum projeto. É o Arduino, um microcontrolador com entrada USB e de energia (+5V) e saídas digital e analógica. Custou 26 euros e o cabo USB outros 8 euros. Espero fazer algo de útil logo. 

Nas primeiras semanas eu queria fugir da oficina, porque achava que eu seria um desastre. Conversei bastante com a professora e ela me aconselhou a ficar, enfiar a cara e desenvolver algum projeto na aula. Aos poucos já estou mais familiarizada com as plaquinhas, os arames, o sensores etc. Tudo isso em inglês, fico traduzindo as coisas no meio da aula através do google translator (a aula é cada um no seu laptop e seu arduino). Os rapazes da turma já estão fazendo barbaridades. As meninas estão mais ou menos estagnadas, parece. Talvez um pouco mais avançadas que eu, mas sem grande entusiasmo também. Tem outros que faltam mais do que vão. Não entendo, uma oficina que é opcional e o povo nem comparece.

ArduinoDiecimilaComponents

Atendendo a pedidos

12 de setembro de 2009 § 1 comentário

Restrospectiva da primeira semana aqui. No segundo dia de Holanda eu ja tive que seguir para a Áustria, por ocasião do festival Ars Electronica em Linz.

Fico devendo mais fotos da Holanda e também desse festival.  Bom sábado para todos (Nicolau está chegando aqui)!

Experiencia Drink.Pee.Drink.Pee

Na foto: Experiencia Drink.Pee.Drink.Pee, com as artistas americanas Britta e Rebecca

Eu e mais 9 pessoas fizemos peepee num pote de vidro (individualmente, of course) para depois os resultados serem testados e tratados para a producão de super nutrientes para a terra. O líquido restante segue mais limpo, para os esgotos, rios, oceanos, para eventualmente ser ingerido de  novo. No final do workshop a gente ganhava o nutriente num tubinho de ensaio para levar para casa e alimentar nossas plantas. As artistas assim propoem o aproveitamento maximo dos fluidos que normalmente sao despejados no curso dos rios.

Leia mais: brittaandrebecca.org

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