Mania de ansiar

1 de fevereiro de 2014 § Deixe um comentário

Tenho que contornar minha ansiedade antes que ela me controle por completo. Problemas sempre aparecem, mas quando me deixo dominar pelas preocupações, uma sequência de pensamentos auto-destrutivos é detonada. Passo dias obnubilada, sem poder cuidar do que precisa ser cuidado, sem capacidade de pensar objetivamente. Fora a minha extrema dificuldade de fazer escolhas. Estou pensando que só uma psicanálise vai me ajudar agora.

Estou falando da experiêcia em Maastricht, uma oportunidade maravilhosa, que se tornou um tormento diante dos problemas técnicos que surgiram e continuam surgindo. Dois meses de exposição

Se não fosse essa instalação

Ansiedade ante a Sala do Movimento

12 de janeiro de 2014 § Deixe um comentário

Enquanto preparo uma nova instalação no MARRES, em Maastricht – onde estou tendo a maior oportunidade artística combinada com uma mordomia jamais experienciada na vida – morro de medo…

Cada projeto meu se relaciona diretamente com o espaço em que será exposto. Na realidade o espaço é o meu trabalho, o que vai determinar as interações, o comportamento e a coreografia do público. Este é meu foco, mais do que os materiais ali instalados.  E portanto tento equilibrar a quantidade de materiais que introduzo, com a liberdade de trânsito dos visitantes/participantes. Claro que o resultado visual me é muito caro, porém o mais importante é minha proposta, a maleabilidade física, a descoberta do corpo de si e dos outros.

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Quando cheguei ao MARRES semana passada, sabia que precisaria de algum tempo para meditar, e poder finalizar o trabalho. Há meses planejando à distância, modelando o 3D no computador e testando os materiais comprados, finalmente eu pude entrar na sala, sentir suas dimensões (apesar de sabe-las, não sabia como seriam, na sala crua, de janelas abertas). O MARRES situa-se num edifício antigo, muito bem conservado e muito fino. Aos fundos, o jardim se insinua pela janela. O espaço é realmente impecável.

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Quero terminar o mais cedo possível. Tenho na prática 6 dias de montagem; toda a assistência do mundo; e volta e meia, alguns pitacos do curador, que parece ser um cara bacana e engraçado. Sabemos que este foi um trabalho encomendado. Por um lado existe uma agenda, a questão da depressão de inverno, e por outro, eu tenho bastante liberdade de criação. O curador abertamente fala de suas ideias e dúvidas quanto à exposição. Brinca com minha proposta, as vezes me provoca, mas tento não levar a sério. O clima é tranquilo. Eles confiam em mim. Eu que às vezes não confio em mim.

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Às vezes voltam os medos e angústias do tempo no Artscience. Parece que já faz muito tempo. Mas há 7 meses atrás, estava eu lá, tensa, indecisa, de fato apavorada. Além do que, estava sem qualquer condição financeira para viabilizar meu projeto final. Curiosamente hoje as coisas melhoraram. Consegui um emprego, pude adiantar todos os gastos desta instalação e mais, esta instituição é grande, séria – não fazem economia.

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Passei três dias e duas noites montando, testando e desmontando a obra em Maastricht. Voltei para casa sábado a noite, para estar com meu amor neste domingo. Nós dois estamos superocupados, quase não relaxamos. Amanhã é segunda-feira e viajo o mais cedo possível para Maastricht. Mas no caminho preciso resolver a compra de umas peças; 150 conexões para meus cabos elásticos. Encomendei-as e vieram no tamanho errado. Falha de comunicação minha com o vendedor. Agora quero ir buscá-las no fornecedor em Utrecht, num tiro no escuro. Dando tudo errado, usarei a mesma solução de sempre (uma conexão metálica, mais bruta, que forjei na oficina de metais na KABK).

Culpo-me por não ter testado e decidido certas coisas antes. Mas estando à distância, meu medo era o de decidir por comprar tudo e os planos acabarem mudando ao chegar na montagem; aí tudo seria desperdiçado depois. Sempre esse medo! Tenho pensado deve ser um problema de quase todo projeto criativo. O artista, designer, arquiteto, ou qualquer criador, planeja algo, encomenda os materiais, mas na hora da execução muita coisa muda. E mudando um detalhe, muda-se o método de execução, o que acaba por mudar outras partes… e vice versa. Tento não  pensar que desperdicei, que vou acabar usando as sobras num projeto futuro. Mas o fato é que já gastei uns 200 euros em materiais que não serão usados agora. Deve ser normal provavelmente. Minha experiência é muito curta para julgar. E meu bolso muito inexperiente também. Se tivesse um estúdio de criação, já o saberia. E certamente teria bastante coisa entulhada, sobras, tudo que acaba de lado. Não chamar tudo que sobra de desperdício é meu único consolo. Detesto desperdício. Saber lidar com erros também é importante. As vezes o material adquirido é muito diferente daquele antes imaginado. Todas estas imprevisibilidades fazem parte.

Fora isso, me falta foco. Durante a montagem eu começo e interrompo várias etapas, misturo as atividades, e não consigo delegar tarefas. Me culpo continuamente. E a auto flagelação não ajuda nada, tomar pequenas decisões nessas horas fica ainda mais difícil. Não consigo decidir a cor das paredes, uma pergunta constante de toda a equipe do MARRES. Mas não quero me arrepender depois… Então aguardo o teste de luz, aguardo outras etapas serem finalizadas.

Não sei se é só uma questão de experiência. Enfim, durante um tormento e outro, comecei a ler entrevistas com Ernesto Neto, na esperança de encontrar na experiência dele, algum insight sobre as questões técnicas, das instalações de escala grande, e interativas (minhas preocupações, quanta responsabilidade! Que angústia!) Acabei encontrando bons depoimentos e agumas semelhanças. Descobri também um pouco mais de seu background e seu pensamento. O cara é bom.

Todos me dizem, “confia!”, “você já o fez outras vezes, por que não conseguiria agora?”. Realmente. Mas não sei o que é. Não sei se isso acontece a todos os artistas montando uma obra nova. Ainda não estive com todos os artistas dessa expo. Sempre me comparo. E sempre temo que os outros notem o meu medo. Mas cada caso é um caso. Ainda tenho 4 dias de trabalho pela frente. Durmo em Maastricht a semana toda, num belo quarto, só pra mim. O lance é perseverança e concentração! Fazer as malas e partir!

Tempo

9 de dezembro de 2012 § 2 Comentários

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Comecei hoje o projeto da coreógrafa Marina Mascarell no Korzo. Ficaremos estes dois meses (auge do inverno!) trabalhando neste estúdio na foto, no belíssimo teatro re-inaugurado ano passado, no centro em Haia.
Estou feliz de participar como cenógrafa e acompanhar de perto o processo de criação de dança, de alguém cujo trabalho eu admiro muito. O projeto chama-se “A Irrealidade do Tempo.” Aguardem mais updates!

Seres humanos são todos iguais

20 de fevereiro de 2012 § 2 Comentários

Por inviável que pareçam os meus dias de inverno, com aulas e compromissos das 10h às 22h, descobri-me fã adicta do novo seriado americano, Portlandia, já na sua segunda temporada. Há duas semanas que vou deitar com o laptop em cima do cobertor, sedenta para rir mais um pouquinho, antes de dormir, com Carrie Bronstein e Fred Armisen. Hoje cheguei ao sexto e último episódio, em clima de ritual. Assim que pisei em casa, resolvi as tarefas do lar em quinze minutos e logo em seguida estava tomando uma sobremesa em frente à minha telinha de treze polegadas. Agora só me resta aguardar sabe-se lá quando eles lançarem a terceira fase.

Nunca estive em Portland ou nos EUA para entender essa gente alternativa e ecologicamente engajada, retratada tão bem por este casal, que ao mesmo tempo atua e escreve o programa. Ô gente cool que não para de multiplicar bandas, blogs, tendências, piadas, em todas as capitais do globo!

Rituais não morrem, adaptam-se

8 de janeiro de 2012 § 1 comentário

Foi um inverno ameno e até quentinho para os padrões daqui até agora. Ao contrário das previsões mais tenebrosas, nem nevou ainda… Na noite de ano novo, na companhia da minha mãe, fui conferir a festa na praia, assim como se estivéssemos em Copacabana. Ouvimos dizer que fazem duas fogueiras gigantescas, uma em Duindorp e a outra em Scheveningen, os dois lados da costa de Haia, para ver qual das duas queima mais alto nos ares. São os moradores locais, pescadores e outros tipos, que se organizam todo ano para a competição.

Saímos da minha casa no Zeeheldenkwartier (o quarteirão dos heróis do mar, em bom holandês), minha mãe na garupa da bicicleta, às 23h30 a caminho da praia. Desde a véspera que os holandeses já explodiam seus fogos nos céus de Haia. Uma festa de mais de vinte e quatro horas, que lembra os festejos do Rio. Pedalamos como num campo de guerra, em meio a rojões e destroços pelas esquinas. Muita gente não gosta desta festa, realmente de dar medo. Ouve-se falar de carros incendiados e das futuras leis mais restritas à compra de fogos (cujo uso é limitado a poucos feriados por ano). Mas a excitação é maior do que o perigo real e chegamos intactas nas areias do norte.

A primeira visão foi a construção de madeira, se revelando atrás das dunas que protegem a cidade do mar. Um palácio desconhecido, feito do material usado na pesca por aqui, que mais lembrava um templo perdido na Indonésia, ou Myanmar, ou Tailândia. Quando chegamos mais perto foi que entendemos como funcionava a coisa.

E começou o espetáculo fantástico de calor e destruição. O vento soprava as chamas para um lado, o público assistia do outro.Uma luz tão poderosa, que iluminava tudo num raio de 500 metros. Um bafo que nos aquecia a uma distância e tanta, mesmo a uma temperatura de uns 5º C. Ao som do techno, a música que três gerações holandesas atrás já ouviam no café da manhã, as famílias dançavam e bebiam suas sidras.

Lemos no dia seguinte que a fogueira do lado de Scheveningen foi maior do que a nossa, em Duindorp. Digo nossa, porque acabamos indo pro lado sul da praia, menos badalado. De qualquer maneira, dali a impressão era de estarmos diante da maior fogueira de todos os tempos. Os fogos de artifício não eram páreo para aquelas chamas (quando você cresce indo à festa de Copacabana os seus padrões de réveillon podem ser bastante altos; então nem reparamos nos fogos em si). Mas a fogueira bateu todos as minhas experiências anteriores com fogo.

Aliás foi no primeiro réveillon que passei por aqui que entendi o desejo humano de lançar fogo nos céus. Deve haver um gosto muito antigo de se marcarem os ritos de passagem com fogo, elemento tão primitivo quanto essencial a todas as civilizações. Mesmo uma sociedade esterilizada como esta daqui, quando chegam as datas festivas, eles saem no frio e na chuva, pra fazer fogo, para iluminar os céus e dizer pra si mesmo que ainda somos humanos.

Antes do inverno chegar

9 de dezembro de 2010 § 1 comentário

Esse foi o anúncio de um inverno que pretende ser o mais frio em mil anos. Amanhã a noite já estaremos no Galeão.

Van Merlenstraat

Van Merlenstraat, nossa rua

tem gente que gosta

vizinhança

Koningsplein, Den Haag

Fotos tiradas no domingo, 05/12/2010. Um dia de completa inaptidão, mas nos arriscamos a sair de casa para checar os 3 gatinhos e 1 coelho de que estou tomando conta esses dias. Já estou com saudades antecipadas deles.

Van Merlenstraat

11 de janeiro de 2010 § Deixe um comentário

A neve voltou. Ficamos horas em casa. Semana de entrega de projetos e textos. Acho que estou engordando. A neve voltou. Semana de entrega de projetos e textos. Ficamos horas em casa. A neve voltou. Acho que estou engordando.

Feliz 2010

29 de dezembro de 2009 § 1 comentário

Este blog esta temporariamente de recesso devido ao mau tempo. Ficamos presos em casa praticamente uma semana por causa da neve que assolou a Holanda, mesmo fora da epoca, e que parou ate o transporte publico. Foi bonito e inconveniente. Enlouquecedor, no terceiro dia, dentro de casa (e sem internet!). Quando a neve cessou, o gelo acumulado nas calcadas transformou-se em pista de patinacao. Um festival de tombos que nao poupava ninguem.

Agora estamos em Londres. Muitas historias e muitos detalhes para contar, mas escrever dos internet cafes da Europa nao e exatamente o ideal… Passaremos o ano novo em Haia, que ja da saudade, nesse caos ingles aqui. A cidade esta tomada pela furia turistica. O barato da Tate Modern foi a multidao, a voracidade com que se consome arte, sanduiche e souvenir da lojinha do museu.

Semana que vem voltamos a faculdade, entao teremos melhores conexoes. Saudacoes a todos e um feliz ano novo. Este ai em cima e’ o Bruguel, com ” The Numbering at Bethlehem”, de 1566.

Frio!

15 de dezembro de 2009 § 3 Comentários

Agora é pra valer. Já passamos para baixo de 0º C e os telhados já amanhecem branquinhos de gelo.

Estou desenvolvendo um projeto para a faculdade, um “mobile environment” e ele precisa ser testado em diversos ambientes. Fui neste domingo testá-lo na praia daqui, Scheveningen, com mais duas amigas. A Silvia, da Eslováquia e a Julija da Lituânia. Quase morremos as três, tentando filmar e fotografar o efeito do vento no tecido. Devia estar fazendo uns – 3º C.

Fomos e voltamos de bike. O trajeto da praia até minha casa deve levar uns 20 minutos. Hoje amanheci gripada. Esse projeto tem que dar certo… Quem quiser conferir um dos vídeos, olha aí.

Solstício

7 de dezembro de 2009 § Deixe um comentário

Estou aguardando ansiosamente o solstício de inverno. Estamos quase atingindo o ápice de escuridão por aqui. Só temos luz das 9h as 17h esses dias. Pelo menos quando faz sol a luz entra algumas horas pela casa.
Essa é a vista da nossa janela ao fim do dia.

Onde estou?

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