FREMD!

29 de agosto de 2013 § Deixe um comentário

Hoje nasceu a nossa fundação (stichting): FREMD. Como o Mike disse, “o nosso casamento profissional”. Assinamos a sua abertura e registro, num notário em Arnhem (o que por si só foi uma cerimônia curiosa, num escritório de advocacia super bacana, cujo escrevente foi de uma extrema formalidade, mas sem faltar com a sutil gentileza holandesa).

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Agora vamos pesquisar, programar eventos, realizar projetos sob o nome FREMD. Nossa casa vai ser o núcleo dessa iniciativa, mas não o local geográfico, e nem “espaço de exposição” (aliás evitaremos o uso do termo “galeria”, pois ele está carregado de sentidos que não queremos para a nossa iniciativa). Queremos tudo, criar, cultivar, apresentar experiências multi sensoriais, híbridos de instalação-palestra-performance-refeição-projeção-audição… e o que mais a mente e o corpo puderem inventar. Amigos e colaboradores serão bem vindos.

Poucos, mas substanciais eventos acontecerão ao longo de um ano.  Primeiro passo: criar um cheiro que seja o nosso cartão de visitas. O site fremd.nl vai entrar no ar em algumas semanas (URL já registrado). E demais projetos a serem anunciados brevemente.

 

Flexor

31 de julho de 2013 § Deixe um comentário

Registro da semana de 6 a 13 de julho (KABK’s graduation show 2013).

 

Depois de 20 dias de montagem, exame final, cerimônia de entrega de diploma, completamos uma semana de exposição na KABK. Não sei quantas pessoas por dia, entram aquele prédio, entre as 12 e as 21 horas e encontram mais de 250 exposições.
Minha experiência com o comitê de examinação foi dura. Penosa. Mas depois de uma semana de contato com o público, pude testar e aprender mais sobre o meu próprio trabalho.

Viajando de trem

16 de junho de 2013 § Deixe um comentário

Vibrei com esta descoberta. Um novo lançamento do Daft Punk sempre tráz de tabela uma aula de Disco music. Dia desses alguém mixou ‘Get Lucky’ com imagens de um programa antigo da tv americana. Na telinha de ontem, ao som dos robôs franceses de hoje, dezenas de pessoas se requebram diante de uma câmera que desliza em linha reta, num desfile de dança e de calor humano. Era o Soul Train, palco da música americana dos anos 70, e de gêneros futuros, que pra nossa felicidade pode ser revisto em milhares de vídeos online.

O Soul Train foi ao ar pela primeira vez em 1971 e só saiu de cartaz em 2006. Isso mesmo, 35 anos de discoteca. É considerado o programa mais duradouro da história da televisão aberta, com mais de 1.1000 episódios. Além de acompanhar a evolução da música pop, eu me deliciei com a energia e também com o desfile de moda daquele povo cheio de graça. Movidos pelo som, pelas drogas ou por pura adrenalina, esses moços dão a impressão de que o mundo, pelo menos pela televisão, era muito mais feliz antigamente.

Sempre em dupla, os dançarinos iam entrando em cena, exibindo seus dotes rítmicos e corporais, num clima de celebração total. Alinhados ao trilho do trem, os convivas aguardavam a vez, ovacionando os colegas ao centro. Os bailarinos eram ao mesmo tempo o próprio público, sem distinção de palco-plateia. Estavam ali os passinhos nascidos nas ruas de Chicago, sinais da break dance, e de tantos estilos que iriam influenciar as danças urbanas de hoje – inclusive o funk carioca. O apresentador-produtor Don Cornelius, sempre em cena, introduzia a festa televisionada, que ia ao ar toda semana, e trazia também artistas de peso. Convidados para cantar e conversar com o público, as estrelas eram entrevistadas abertamente pela galera. Ainda que com os famosos convidados, os protagonistas eram os participantes-dançarinos, homens e mulheres comuns, pés de valsa, como eu e você.

Petite Mort

8 de fevereiro de 2013 § Deixe um comentário

Nos últimos tempos percebi o pouco que eu conhecia da dança, do balé, do teatro, Mas mesmo assim tenho os meus palpites. Esta peça de Jiri Kylián me parece um dos trabalhos mais precisos que já vi.

Expanded Performance

25 de dezembro de 2012 § Deixe um comentário

Dia 16 apresentei meu projeto na série “Expanded Performance”, do Stroom Den Haag, dia também do finissage. Levei meu instrumento de comunicação táctil. Eu sentada de um lado, convidava os participantes a sentarem-se no outro.

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Quando propus esta versão para o Stroom, decidi entitula-lo “Approximation” e cada vez mais gosto do nome. Tenho sempre dificuldade para decidir títulos…

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A experiência acontece de olhos fechados, mãos conectadas ao sistema de elásticos que controlam o movimento dos dedos. Eu dou os primeiros toques, o participante deve seguir, transferir o meu movimento de uma mão para a outra. Formando um circuito de toques que são espelhados de cada lado da estrutura.

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Devo ter recebido pelo menos umas quinze pessoas. Apenas uma senhora pediu para interromper o experimento, alegando dificuldade e quase me passou um pito. Sim, existe um grau de aprendizado nesse trabalho, que eu também espero, quero desenvolver nos participantes. Mas a maioria das pessoas topou o desafio e achou graça.

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Fotos do Mike Rijnierse.

Cinestesia

11 de novembro de 2012 § Deixe um comentário

Me perdoem a ausência por aqui. Até tenho escrito bastante, mas não sobre a vida, ou sobre a Holanda… Até criei outro blog esta semana! Agora em inglês e dedicado à minha tese de graduação sobre propriocepção e cinestesia. Envolve um pouco de performance, dança, corpo humano, neurologia…

Propriocepção também denominada como cinestesia, é o termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Este tipo específico de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de diversas atividades práticas. Resulta da interação das fibras musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de informações táteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno.

Inteligência corporal-cinestésica

Segundo a teoria das múltiplas inteligências, a Inteligência corporal-cinestésica refere-se as habilidades que atletas e artistas (especialmente dançarinos) desenvolvem para a coordenação desejada de movimentos precisos necessários para a execução de sua técnicas.

Um problema sério no desenvolvimento dessa inteligência é que segundo Howard Gardner a maioria das escolas se satisfazem com desempenhos mecânicos, ritualizados ou convencionalizados, isto é, desempenhos que desenvolvem as habilidades apenas levando o aluno a repetir o que o professor modelou.

Uma das técnicas mais usadas para o desenvolvimento da cinestesia é vendar os alunos para que com a ausência da visão eles se focalizem na cinestesia no uso de suas técnicas. Outro recurso muito utilizado é o uso de um ou mais espelhos ao redor do aluno durante os exercícios ou filmar o treinamento para que a visão sirva como feedback de como estão sendo feitos os movimentos.

Sensores

O conjunto das informações dadas por esses receptores sensoriais nos permitem, por exemplo, desviar a cabeça de um galho, mesmo que que não se saiba precisamente a distância segura para se passar, ou mesmo o simples fato de poder tocar os dedos do pé e o calcanhar com os olhos vendados, além de permitir atividades importantes como andar, coordenar os movimentos responsáveis pela fala, segurar e manipular objetos, manter-se em pé ou posicionar-se para realizar alguma atividade.

A propriocepção é efetiva devido à presença de receptores específicos que são sensíveis a alterações físicas, tais como variações na angulação de uma articulação, rotação da cabeça, tensão exercida sobre um músculo, e até mesmo o comprimento da fibra muscular.

Alguns dos sensores responsáveis por tais sensações são:

  • Órgãos tendinosos de Golgi, que são sensíveis à tração exercida nos tendões indicando a força que está sendo exercida sobre a musculatura, impedindo lesões.
  • Fuso muscular, que se divide em dois subtipos, fuso neuromuscular de bolsa, e de cadeia nuclear, sendo estes responsáveis pelo comprimento da fibra muscular no repouso(postura) e durante o movimento.
  • O labirinto, também conhecido por sistema vestibular, localizado no ouvido junto à cóclea, é sensível a alterações angulares da cabeça. As alterações podem ser no sentido vertical (rotação vertical, deslocamento do queixo para cima e para baixo) ou horizontal (rotação horizontal ou lateral, deslocamento do queixo lateralmente ou seja, direita e esquerda). Este sistema também atua na identificação da posição de todo o corpo, permitindo que alguém saiba se está deitado, em pé ou em qualquer outro posicionamento espacial. Perturbações no sentido de equilíbrio podem levar a correções inadequadas, que em casos extremos podem impedir a manutenção da posição vertical, além de causar vertigem e náusea.

Hapt me

31 de outubro de 2012 § Deixe um comentário

Registros de uma performance participativa, apresentada aqui, no final de setembro. A tal prova de recuperação foi enfim para o bem. Tive boas reações, boas descobertas. Várias pessoas quiseram testar meu aparato de comunicação táctil (não sei como chama-lo ainda; colocar o título sempre me dá mais trabalho). Tenho chamado por enquanto de Hapt me, em referência a haptics (como traduzir o termo para o português? bom, tactilidade) e com ecos de Caetano Veloso.

Foram testadas duas versões, tanto na posição dos elásticos, quanto no set up de luz, como pode ser visto nas fotos. Fora isso, pode ser usado para uma experiência de leitura facial mútua, ou para um diálogo de quatro mãos. Uma experência íntima para quem vê de fora, mas para quem participa torna-se jogo de adivinhação, com a chance de você confundir as bordas do seu próprio corpo.

É importante lembrar que enquanto este trabalho era desenvolvido, acontecia por uma coincidência feliz, a oficina sensorial de inauguração do ano do Artscience, Sensing Sensations, que já devo ter mencionado por aqui. E que foi coordenada pela dupla de convidados, Caro Verbeek e TeZ.

Como este departamento é gerido com amor, os alunos sempre iniciam o ano mergulhando numa oficina de quase dois meses, três vezes por semana, seis horas diárias. Calouros, veteranos e alunos de mestrado recebem o mesmo  tratamento e podem escolher entre duas oficina diferentes. Professores e artistas convidados também vêm frequentemente dar estas oficinas, o que ajuda a refrescar as relações dentro do departamento também.

O projeto deve serguir expandindo-se para outras partes do corpo, outros movimentos, novos diálogos. Já devo ter mencionado por aqui o meu fascínio por playgrounds. Quando comecei a experimentar com estes materiais, elásticos, cordas e madeira, tinha em mente instalar um espaço inteiro onde as pessoas, aos pares, percorreriam uma série de objetos relacionais, sentindo a presença ou o movimento do outro a uma certas distâncias. O potencial do tato foi mais um aspecto de que me dei conta neste período. Muitos caminhos se revelaram, em termos de literatura e referências artísticas. Encontrei por exemplo, o manifesto Tactilista, do Marinetti, que é uma delícia.

(…)

Quasi tutti propongono un ritorno alla vita selvaggia, contemplativa, lenta, solitaria, lungi dalle città aborrite.


Quanto a noi Futuristi, che affrontiamo coraggiosamente il dramma spasimoso del dopo-guerra, siamo favorevoli a tutti gli assalti rivoluzionari che la maggioranza tenterà. Ma alla minoranza degli artisti e dei pensatori, gridiamo a gran voce:
– La Vita ha sempre ragione! I paradisi artificiali coi quali pretendete di assassinarla sono vani. Cessate di sognare un ritorno assurdo alla vita selvaggia. Guardatevi dal condannare le forze superiori della Società e le meraviglie della velocità. Guarite piuttosto la malattia del dopo-guerra, dando all’umanità nuove gioie nutrienti. Invece di distruggere le agglomerazioni umane, bisogna perfezionarle. Intensificate le comunicazioni e le fusioni degli esseri umani. Distruggete le distanze e le barriere che li separano nell’amore e nell’amicizia. Date la pienezza ela bellezza totale a queste due manifestazioni essenziali della vita: l’Amore e l’Amicizia.

(…)

Il Tattilismo
F.T.Marinetti

Milão, 1921

Arte e participação

25 de outubro de 2012 § Deixe um comentário

Mais e mais referências para uma tese: Claire Bishop, historiadora, que escreveu Installation Art: A Critical History (London: Tate, 2005), Participation (London: Whitechapel and MIT Press, 2006), entre outros livros e artigos para publicações especializadas. Detalhe para a escolha da capa de Participation, o ritual da  “Baba Antropofágica”. Viva Lygia Clark! Tão desconhecida por aqui.

Achei o livro em PDF nesta fantástica biblioteca: libgen.info. (os links aparecem todos em russo, mas buscando em inglês, encontra-se de tudo). Outra grande descoberta.

Mais mulher, por favor

27 de setembro de 2012 § Deixe um comentário

Momentos de revelação. Fúria feminista, não sei. Levei tempo para confiar nas minhas ideias e persegui-las. Acho que foi saturno. Previsto até outubro. Saturno, ou Chronos, engolidor de filhos. A melancolia. Enfim, o verão por aqui já passou. Três meses de férias. Estive no Brasil, revi a vida por lá, a família, os amigos. Voltei. Não pude escrever por aqui neste ínterim.

Voltei para meu último ano de estudante de arte e de muita expectativa. Amanhã acontece a minha prova de recuperação. E só hoje a tarde consegui resolver várias questões criativas e técnicas, que me custaram noites e dias e euros de pesquisa.

Melancolia, de Albert Dürer

Ontem a noite, depois de testar meu projeto com dois amigos, não cheguei a resultado nenhum. Pelo contrário, me perdi. A noite, em casa, num momento de frustração completa, resolvi relaxar e espiar o trabalho de uma artista que conheci recentemente, a americana Daria Martin. Ela faz filmes num formato que podemos chamar de tradicional, 16mm, com um acabamento impecável. Ela estuda o corpo em relação aos objetos. O movimento no tempo. Um pouco do que venho pesquisado. E foi vendo trechos dos seus filmes que tive um estalo, a solução para a peça que mostrarei amanhã de manhã.

Resolvi fazer eu mesma uma performance com um dos aparatos que eu construí esses dias. Também chamei um colega para atuar comigo, como se meu espelho, que ao mesmo tempo é meu oposto. Treinamos hoje a tarde, conversamos. Ele estudou teatro. Tirou de letra e ainda me deu excelentes toques. Fizemos um ensaio para uma platéia de umas 16 pessoas. De repente, às quatro horas da tarde, eu estava pronta, muito antes da escola fechar (há três semanas que eu fechava a escola, todo dia, às dez da noite). E ainda por cima, confiante, estado que não conheço há meses.

Para explicar o projeto todo eu teria que contextualizar as coisas por aqui. Comecei um curso sobre “os outros sentidos”, aqueles considerados inferiores, desde Aristóteles: o olfato, o paladar e o tato. Vivemos uma cultura panóptica. Trouxeram palestrantes incríveis, como uma senhora antropóloga especialista em cinestesia como forma de aprendizado, leia-se, a dança como forma de pensar, Yolanda van Ede. E muitos outros que vieram e se foram num intervalo de três semanas. Dei-me conta de como faltavam mulheres dando aula no meu curso. Que refresco! Adoro e admiro os professores homens, mas quando surge uma professora brilhante, de personalidade forte e ainda pessoa fina, é como um bálsamo, umedecendo a aridez do Artscience. Sem contar, fiquei conhecendo outra figura sensorial, a Caro Verbeek, professora fixa do Artscience, mas que só hoje fui conhecer. Especialista em olfato e toque. Belíssima. E a Lígia Clark, gente? Desconhecida por aqui…

Buscando mais Daria Martin, agorinha mesmo descobri a dona Anna Halprin. Supostamente uma revolucionária professora de dança, que nos seus oitenta e tantos anos atua com gente de todas as idades – bem como Angel Vianna, pois é. É impressionante, quanto mais a gente sabe, mais coisas a gente descobre que não sabe. Poço sem fundo! Segundo João Moreira Salles, tudo que a gente pesquisa com profundidade se revela mais e mais interessante e belo. Já sei o qual vai ser minha tese de formatura! Fica pra outro post.

Viva a inteligência humana!

vizinhos e fitas cassetes

21 de maio de 2012 § Deixe um comentário

Enquanto pesquiso, quantos achados! Documentários e projetos mil sobre a mídia fita cassete, das velhas fitas magnéticas que surgiram nos anos 50 ao walkman e ghetto blasters desde 1979 e à atual nostalgia de uma mídia obsoleta que tinha suas vantagens sobre o meio digital.

Conheça o antigo laboratório radiofônico da BBC e seus alquimistas do som:

(incluindo a obra de Delia Derbyshire!)

Um artigo “K7eurs – Tape’s not dead!” na arte.tv, sobre os artistas que hoje usam e experimentam com as fitinhas.

Um projeto que eu queria ter feito: Live Experiments in Human Energy Exchange, por Deb Todd Wheeler.

O processo de desintegração das fitas, por William Basinsky, (Disintegration Loops).

O mecanismo criado por Dick Raaijmakers em Der Fall Leiermann.

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