Elderflower cordial

5 de junho de 2012 § Deixe um comentário

Após minha apresentação fatídica na faculdade – da qual posso falar num outro momento, ainda está muito fresca, foi sexta passada – agora só me restam as férias. E a oportunidade de fazer o que quero, inclusive encontrar o sonhado emprego.

Hoje dando uma volta no Westbroekpark consegui colher umas flores de sabugueiro para preparar no jantar. Sim, provei-as fritas, à milanesa, outro dia, quando estive expondo no estúdio FoAM em Bruxelas (que espaço maravilhoso! postarei umas fotos em breve) e me encantei por aquelas florezinhas cujo nome ainda não sabia.

Custei a descobri-lo, pois me deram o nome holandês (vlierbloemsen) que por azar não tive a oportunidade de anotá-lo. E depois disso não tive tempo de pesquisa-lo. Mas desde então tenho reconhecido o arbusto pelas ruas de todo o país (sim, estes nas fotos eu fotografei em Enschede), desabrochando fartamente. Já contei aqui a minha recente vontade de descobrir as flores comestíveis e divulga-las na forma de um banquete. Pois foi hoje em que fiz a minha primeira tentativa, com a técnica milanesa também! Segui esta receita aqui.

As flores devem ser cuidadosamente lavadas e passadas na mistura de ovos e farinha. Uma pitada de sal e uma derramada de cerveja escura também é recomendado. Mas eu só tinha cerveja clara, o que caiu igualmente bem. A fritada é rápida e não requer muito óleo. A consistência lembra levemente a couve-flor quando frita no mesmo estilo. Mas a textura é mais crocante, leve, e o sabor mais perfumado.

E fiz o chá também! É ele que se chama Elderflower cordial ou Elderberry lemonade para os anglófilos. Vou prová-lo agora.

Lente

16 de maio de 2012 § Deixe um comentário

A primavera, para o povo de fora dos trópicos, é coisa séria. Quando aparece, ela realmente levanta o astral de todo mundo. Depois do rigoroso inverno de dias curtos e um frio de doer, a luz, os perfumes e as cores alavancam o humor de todos. Nos trópicos, como grande parte do Brasil (onde a natureza é mais constante no seu desabrochar) a gente só imagina este processo da primavera pelos livros e filmes e fotos, mas a experiência estética é muito mais intensa ao vivo. Saber nem sempre é sentir. Parece conversa de revista de decoração, mas é papo seríssimo.

E se os holandeses são mestres do planejamento, do design, da manipulação de cada centímetro quadrado de terra, as flores não ficariam de fora. Elas são notoriamente selecionadas há séculos também. E continuam sendo. Estas que vocês veem aqui ganharam nomes de estrelas de cinema, por exemplo. A gente no Brasil conhece essa cultura ao visitar a antiga colônia holandesa em São Paulo, Holambra, onde estive uma vez, por volta dos meus 8 anos. Só lembro mesmo das cores e do tamanho das flores tomando todos os meus sentidos, ao adentrar a feira.

Nessa época na Holanda, não só as flores comercializadas, mas todos os canteiros, meio fios, pequenos trechos de gramado estão cambiando de formas, escandalosamente, encantando os passantes. A cada semana um desfile diferente. Pedalando pela cidade, você descobre uma nova espécie pululando aqui e ali. Um dia o canteiro em frente à minha escola está pintado de amarelo. Na semana seguinte de rosa, na outra, de branco… E você pode levar consigo uma ou outra flor pelo caminho, pois elas abundam como se oferecendo-se: me leva?. Outro dia fiz dois buquês na orla do canal aqui perto de casa e levei para mim.

Fiz essas imagens no sábado passado, enquanto escolhia umas flores para oferecer a uma família a que ia visitar. Esta esquina era um espetáculo matinal.

E para completar, estou começando a pesquisar flores comestíveis. Quero planejar um almoço onde algumas destas espécies poderão ser apreciadas e degustadas. 1) Para provar que comer é experiência multisensorial. 2) Para provar que amor é ingrediente essencial na comida de todo dia. 3) E, claro, unir o útil ao agradável, comer com arte! Veja um pouquinho mais pelo livro que encontrei: De Smaak van Bloemen (O sabor das flores): no post “Edible Flowers” no meu multiply. Vai aí um palpite e homenagem a Analu Prestes, que tem um olho especial para o jardim do mundo.

Em tempo: Lente é ‘primavera’ em neerlandês, ok? (desconfio que até a língua também foi modelada por eles, uma mistura de alemão com inglês, pitadas de francês e até quem sabe de espanhol).

Cuidado, cruzamento de sapos

24 de abril de 2012 § Deixe um comentário

Estou colaborando no blog do meu amigo Vinícius Tamer, Trevous.com, e esta semana escrevi o seguinte post, sobre a reprodução dos sapos por aqui. Alguns de vocês já haviam visto as fotos que uma vez postei no facebook. Mas agora conto toda experiência que passamos por aqui.

Os sapos holandeses não precisam olhar pros dois lados da rua ao atravessa-la. Durante dois meses entre fevereiro e abril, a prefeitura de Haia fecha a travessia principal desses saltitantes amfíbios, no bosque de Scheveningen, das 19 às 7 horas, diariamente, para que eles possam chegar até o laguinho tranquilos. É que todo ano na época de acasalamento (final do inverno) os sapos da região saem de sua hibernação no bosque, encontram-se no asfalto, realizam suas cópulas e depois, as fêmeas sozinhas, creio eu, terminam o processo indo depositar seus ovos na água mais próxima.

Fui lá conferir por duas vezes este ano. No primeiro dia, foi por volta das 21 horas. Os bichinhos não estavam se exibindo, como você e eu imaginávamos. Nada disso. Eu que esperava um festival de anuros pululando pela estrada a noite toda, me decepcionei. Imaginei uma vez também que assistiria a uma fila indiana de sapinhos recém nascidos realizando cuidadosamente o trajeto, para não se perderem de seus irmãos. Fato é que não avistei um para contar história. Talvez a noite estivesse muito fria ainda, para o gosto deles, e para o meu também. Início de março. Esperar-se-ia um pouquinho mais.

Da segunda vez, estávamos eu e meu namorado voltando de uma festa às duas da manhã. A noite estava bem morna para padrões holandeses, por volta dos 15º C. Pedalamos devagarinho pela estrada, observando pequenos detalhes no asfalto. Foi aí que vimos tudo. Não eram muitos, aliás pouquíssimos, que só pude perceber mirando no escuro da sombra do meio fio. Meu namorado custou a enxerga-los. Os pequenos sapinhos (ou seriam apenas sapinhas?) tentavam saltar do nível do asfalto para a calçada. Uma altura de 15 cm de meio fio, que parecia intransponível. Um outro estava relax parado no meio da rua. Por que tão pensativo, naquele asfalto frio? Não seríamos nós, dois seres humanos, uma ameaça a sua travessia? Saquei minha câmera e cheguei pertinho dele. Daí percebi que não era um, e sim dois sapos acoplados. Ok. Estavam em momento íntimo e não se importavam com mais nada. Pude fazer quantas fotos quisesse, apesar da luz não ser das melhores. Os dois ficariam ali por horas, então partimos em busca de mais ação.

Eu ouvira falar da sua dificuldade em completar o processo de reprodução. Se as fêmeas não chegassem ao laguinho em tempo, sua espécie estaria ameaçada. O holandês meu companheiro explicara que não era ajuda suficiente o estado interditar a estrada, sem também ajudá-los a superar o obstáculo do meio feio. Ou seja, na minha imaginação, comecei a desenhar rampas, escadas, elevadores, para que as sapas, pesadinhas depois da cópula, pudessem seguir seu caminho. Foi quando meu namorado habilitou-se a levantar as sapinhas os 15 centímetros necessários. E ainda insistiu para que eu o experimentasse também. De início elas resistiam ao contato humano, por instinto tentando fugir. Mas felizmente o rapaz conseguiu ajudar as cinco sapas que encontramos pelo caminho. Eu mesma não consegui superar o meu obstáculo de pegar num anuro com minhas próprias mãos. No máximo consegui tocar a ponta do dedo indicador, por um segundo, e sentir a sua pele, sua temperatura. Aquilo já foi uma conquista. Desafiar a si mesmo é experiência que levamos para o resto da vida. Posso dizer que o bicho era menos úmido e menos gelado do que eu imaginava. E bem bonitinho mesmo, marrom esverdeado.

Ao chegar na calçada, ao contrário do que esperávamos, elas não seguiam direto a caminho do lago, que estava ainda a uns dez metros de distância. Pelo contrário, ficavam estáticas, como que perdidas, sem entender ao certo como chegaram ali. Seria a mão de Deus? Que lugar é este? O que foi que aconteceu mesmo? As sapinhas pensavam, pensavam, por tanto tempo que nem pudemos esperar mais para ver. Só podemos acreditar agora que elas completaram a missão com sucesso. A população de humanos, aranhas e mosquitos de Scheveningen agradece.

People

12 de junho de 2010 § Deixe um comentário

Esta semana nos despedimos da Gerttu, uma moça fina e engraçadíssima da Estônia. Ela veio passar apenas um ano… Na foto estávamos nos reunindo no parquinho em frente à academia, o Malieveld. Aonde todos se jogam quando faz sol.

Windows

27 de maio de 2010 § Deixe um comentário

As janelas na Holanda são um universo. Mereciam um blog só pra elas. Você passa pela rua e vê a casa inteira por dentro. Alguns fazem um pequeno arranjo, cenário, em frente à cortina. Esse aí foi chegando em Scheveningen, esse domingo. O primeiro dia em que saímos sem casaco.

Maastricht

20 de maio de 2010 § Deixe um comentário

Uma cidade do extremo sul da Holanda, quase Bélgica, quase belga. Fui ontem e estava o dia mais agradável do ano até agora.

Primavera

27 de março de 2010 § Deixe um comentário

Estamos aqui dando as boas vindas à nova estação. A temperatura estabilizou na faixa dos 8º aos 15º C. Já avistamos alguns braços e pernas descobertos. Tudo é cartão postal por aqui. Os gramados se cobriram de flores. Quando a gente passa de bicicleta, tem certeza de que é simulação. Depois de ler o Baudrillard o mundo nunca mais foi o mesmo. Agora eu sei que estou vivendo num cenário emulando realidade. As criancinhas no parque não são reais. Não acredite no que os seus olhos veem. Simulacra! Sei de outro rapaz na minha escola que é um holograma. Está sempre elegante, caminhando de óculos escuros pelos corredores da faculdade. Nunca o vi falando com ninguém, nem estudando, nem trabalhando.

Aliás essa semana assisti a uma palestra de um sujeito da universidade de Eindhoven, que veio na nossa escola falar sobre o conceito de “Next Nature”, que ele literalmente inventou. O cara se dizia cientista, designer, teórico, artista, “barra muitas outras coisas”, enquanto controlava um powerpoint com o controle remoto. Sempre sorridente, achando que trazia as maiores novidades do mundo. Vinha com um papo raso, sobre a uma certa “inversão de papéis entre natureza e tecnologia”, pois a natureza está cada vez mais informatizada e “os engarrafamentos das grandes cidades estão cada vez mais orgânicos”. Não soube explicar a diferença entre complexidade das grandes cidades e complexidades dos organismos, coisa que ele tentou insinuar, mas ninguém entendeu. Enfim, um publicitário que se diz artista; porque faz animações bonitinhas sobre a sociedade da informação e da nanotecnologia. Bom pra o mercado das conferências, para os TED.com por aí (não consigo mais assistir aos vídeos desse site!). E o cara ainda se dizia filósofo…

Começo a questionar a reputação das universidades holandesas. Eles se orgulham de serem o que são e não tem um nível tão alto quanto eu esperava. Mas esse papo fica pra um próximo post.

O que eu queria dizer mesmo é que apesar da simulação de cartão postal, com tulipas em todas as jardineiras (que está acontecendo mesmo, a olhos vistos) estamos, eu, Nicolau, meus amigos e todos os holandeses, muito felizes e renovados. Mas não hei de me enganar! Vocês precisariam fazer uma expedição à (única) rede de supermercados daqui, o Albert Heijn (que já foi tópico desde blog há um tempo atrás). Lá os vegetais são absurdamente iguais e perfeitos. A maioria já vem lavada e ensacada, individualmente, como se saído de fábrica. Acho que as crianças daqui não tem noção do que é o bichinho da maça, o bicho da goiaba, o mosquitinho da banana… Aliás nem os meus colegas de faculdade, muito mais novos do que eu devem saber.

Onde estou?

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