De volta

22 de agosto de 2013 § Deixe um comentário

Estou de volta à Holanda, depois de quatro semanas no Rio. E já se foram quatro anos fora do Brasil. Me formei. Quero ficar mais. Não sei quanto tempo. É estranho, nunca imaginei ao vir pra cá que tudo, absolutamente tudo, mudaria. Mas novos projetos se iniciam aqui.

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Vi pouca gente no Rio, mas consegui curtir meus pais e meus sobrinhos. Enquanto tento um novo visto, fico de lá pra cá entre papéis, emails, carimbos, telefonemas, pagamentos, tentativas e erros… Cheia de ansiedade e de esperanças. Faz um tempo gostoso na Holanda, a gente até esquece que isso é uma geladeira a maior parte do ano.

O Itamaraty do Rio

13 de agosto de 2013 § Deixe um comentário

De vez em quando você precisa legalizar um documento no Ministério das Relações Exteriores. No Rio de Janeiro isto é feito no Palácio Itamaraty, um deslumbrante sítio arquitetônico esquecido no centro do Rio. Poucas pessoas que ali entram, no entanto, e modestamente percorrem os seus jardins, conseguem experimentar o que uma boa arquitetura oferece à gente. Sob os olhares desconfiados dos seguranças, a maioria que ali se espreme na fila, está com pressa. Comunicam-se com os funcionários locais através de grades e são orientados a aguardar em pé até que gritem os seus respectivos nomes. Não estou exagerando, eu o vivi literalmente na semana passada. Esses visitantes então mergulham em seus telefones celulares, olham para o infinito, o chão. Ignoram as colunas onde se encostam, ou os desenhos da cerâmica em que pisam. A poucos metros dali, os cisnes se limpam ao sol, a luz é filtrada pelas palmeiras e pelas arcadas deste  edifício neo clássico concebido com amor e precisão. Um funcionário passa pelo outro lado do lago, os seguranças permanecem sisudos e tristes (por quantas horas por dia?) e ninguém percebe o óbvio. Ninguém repara e nem quer saber que espaço é aquele. Na apreensão do dia a dia, quase ninguém tem o tempo de se admirar.

(fonte: wikipedia)

‘Ter esse tempo’ não significa necessariamente ‘tomar tempo’, interromper um projeto ou um compromisso importante. Tem algo por trás disso que remete à formação da sensibilidade. Entrar num edifício como este deveria ser sempre um instante de arrebatamento. E se isso não acontece pode ser porque estejamos embrutecidos. A arquitetura clássica sempre foi pensada para enobrecer a experiência humana. A forma como os trajetos, a perspectiva, a presença da luz e as proporções da estrutura nos afetam, não é uma questão intelectual. É uma experiência estética que todos nós poderíamos ter, intuitivamente, se estivéssemos suficientemente porosos, sensibilizados. O edifício do Itamaraty pede para ser percorrido, tocado, explorado. Não falo por romantismo ou por um gosto elitizado, mas falo de uma sensibilização que se pode ser desenvolvida desde a infância. O corpo é equipado para ver, ouvir, cheirar, mover-se, sentir, de forma rica e prazeirosa. Em casa, na escola e em toda a cidade, deveríamos nos desenvolver como seres sensíveis e sempre aprimorar nossos sentidos. Mas isso requer intenção e dedicação. Uma tomada de consciência que muitas vezes é tida como futilidade.

Existem prazeres que custam quase nada, uma fruta, um passeio a pé, dançar, mas nos acostumamos a reconhecer como prazer aquilo que nos é oferecido para consumir. Até porque uma cidade como o Rio hoje não nos permite fazer escolhas, porque para tal precisamos de uma consciência mais ou menos tranquila. Vivemos em tamanha hostilidade urbana, que sentir tornou-se um luxo. A administração da cidade do Rio de Janeiro é baseada na emergência e não tem uma intenção, uma missão. Ou se tem, deve ser a da distração. Somos tão oprimidos pela violência, a corrupção, o consumismo, que não percebemos que de fato estamos deprimidos. Tudo cansa e por isso buscamos nos distrair, na televisão, no futebol, porque é o que temos como identidade cultural. E porque pensar outras vivências não está em questão, aliás daria muito trabalho.

(fonte: funag.gov.br)

Para chegar ao Itamaraty, o pedestre precisa atravessar a barreira do mau cheiro e do abandono. Confesso ter tido medo de ser assaltada, cheguei de ônibus e fui praticamente correndo pela Av. Marechal Floreano. O estado de conservação do edifício também não é dos melhores. Além das fachadas deterioradas, veem-se instalações elétricas e encanamentos improvisados ou quebrados. Enfim, isso não importa, o cidadão não é bem vindo. Parece que o Itamaraty oferece visitas guiadas (oportunidade que nunca tirei) e volta e meia abriga conferências. Mas não encontramos informações concretas no seu website, só em sites sobre turismo no Rio. Como o do Rio de Janeiro Aqui:

Av. Marechal Floriano, 196 – Centro
Tel. 2253-2828 Fax. 2253-7691
Seg, Qua, Sex, 14h, 15h e 16h – Visitas guiadas
Visitas monitoradas com duração de 45 minutos
Entrada franca

Os indivíduos que vão por motivos burocráticos nos dias úteis e encontram este santuário perdido, deveriam no mínimo ter o direito de sentar-se ou aguardar seus processos de forma proporcional à beleza do edifício. Por que será que não existem assentos ou mesmo um salão inteiro para aguardarem à sombra? Por que não adotaram um sistema de senhas e não deixam o público aproveitar um pouco daquela espera, ao ar livre, usufruindo daquele jardim? Mas claro, na cidade partida isso não interessa. Vivemos a cultura do medo e da opressão. Somos todos ameaçados, somos todos suspeitos, somos vândalos. O Palácio Itamaraty, como edifício público e como legado artetônico, com todo o seu aparato de seguraça, tinha o dever social de ser exposto e explorado para fins culturais e educacionais. Ele precisa ser descoberto e redescoberto por todos os cariocas, brasileiros e estrangeiros que ainda tenham dois olhos, dois ouvidos e uma pele de qualquer cor.

Em tempo: o neo clássico foi uma estilo adotado no século XIX para edifícios públicos então construídos nas principais capitais brasileiras, tendo como referência a cultura clássica (Grécia e Roma antigas) para as questões da vida cultural, política e jurídica. São mais ou menos do mesmo período no Rio, a Biblioteca Nacional, a câmada dos vereadores, a assembleia legislativa, o Museu de Belas Artes, o Theatro Municipal etc. Muitos deles baseados em originais franceses. O Palácio Itamaraty foi construído entre 1851e 1855.

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No Rio

12 de agosto de 2013 § Deixe um comentário

Estou no Rio. Revendo os amigos, renovando documentos para um visto na Holanda e acima de tudo, passando tempo com a família. Dentre os pontos altos e baixos da viagem estou revendo arte, arquitetura e políticas urbanas. Quis fazer uma lista do que me encanta e do que me entristece nesta cidade.

Sobe: Chelpa Ferro, Ronald Duarte, galeria Progetti

Desce: o mau estado das instalações do Planetário carioca, na Gávea. Monitores de sobra e manutenção de menos. Em pleno mês de férias quando visitei, julho, a cúpula principal “estava em manutenção”. Seja o que for, um conserto deveria ser realizado à noite ou em poucos dias, para atender ao máximo o público. A cúpula principal fechada nas férias demonstra falha de planejamento. Isso sim.

Sobe: Casa do Saber, sua missão e sua programação intensa – impressa num pequeno e belo catálogo semestral (só faltou um calendário ali) e disponível no site.

Desce: o mau estado e mau uso do Palácio Itamaraty, belíssimo edifício no centro da cidade que – devidamente guardado por suas atividades oficiais e extra nacionais – não permite a chance de ser apreciado e aproveitado, nem àqueles poucos que o visitam durante a semana. Os arredores do Itamaraty são também hostis, o lado negligenciado do Centro antigo, próximo à Central do Brasil, que mais afasta do que atrai os visitantes.

Sobe: O Dança em Foco, que começa esta semana e oferece uma programação vasta e acessível no Cacilda Becker e na Maison de France

Desce: as calçadas, o asfalto e o estressante tráfego no Rio

River de Janeiro

10 de julho de 2011 § Deixe um comentário

Estou numa passagem relâmpago pelo Rio. Tentando me encontrar, reparar feridas, tomar uma decisão importante.Vai ser difícil ver todos os amigos. Talvez eu volte logo pra cá. Minhas dúvidas pessoais se confundem com questões maiores, como a situação atual da Holanda e as oportunidades no Brasil. Lá estão cortando o orçamento de todos os setores. A cultura e a arte na Holanda, que sempre foram motivo de atração de artistas do mundo todo, estão seriamente ameaçadas. A direita subiu no poder e os Países Baixos se tornam cada vez mais racistas.

Enquanto isso no Brasil, estamos crescendo aos poucos. Procuram engenheiros e arquitetos no momento. Eu poderia sair da situação de estudante dura, imigrante não-européia, para arquiteta assalariada no Brasil. Essa situação toda se coloca como um dilema que eu preciso solucionar em menos de duas semanas. Haja razão e coração. É por isso que estou fazendo terapia e lendo O Erro de Descartes, de Antonio Damasio. Na esperança de obter uma luz na minha decisão.

De profundis

24 de junho de 2011 § 1 comentário

Antes das férias chegarem eu senti que estava diante de uma grande transformação. Que a realidade ia mudar radicalmente. Senti muito medo.

Agora estou diante de muitos caminhos. E principalmente tentando me preparar pra tocar minha vida independentemente, como nunca antes. E se tudo der certo, será ainda na Europa, na Holanda, país que passa pela crise econômica, a ascenção da direita racista, os cortes na cultura e nas artes… Péssimas perspectivas. Tudo que a Holanda já foi está morrendo em pouco tempo. Segunda feira acontece um dos maiores protestos em Haia, a marcha da civilidade. Todas as pessoas que conheço estarão lá.

Enquanto passo por minha terrível transformação, procurando meios de continuar meus estudos aqui (me preparando inclusive pra ir ao Rio por 3 semanas), cuido de dois gatinhos cujos donos viajaram, numa casa cheia de amor; continuo e inicio projetos, por amor a arte e não ao dinheiro. Busco forças.

Sábado que vem já estou no Rio, gente. Espero poder descansar, clarear as idéias, receber colo. Nunca me meti em tamanho drama.

Uma vez Holanda sempre Holanda

22 de agosto de 2010 § 1 comentário

Voltar pra Holanda é sempre comovente hoje pra mim. Mesmo vindo da Alemanha, aqui do lado. Estive em Frankfurt esta semana, 5 horas de trem daqui. Fui principalmente pra estar com minha amiga Gra, depois para conhecer um pouco mais deste país de que sempre fui fã. Passeamos pela cidade e passamos também um dia em Mainz, cidade de Gutenberg. Ótimo tempo, boas conversas. Falamos sobre a adaptação de volta ao Brasil – seria possível? Ela mora por aqui há mais de quatro anos, casou e vai ser mãe em janeiro. O que mais nos aflige é o estresse de viver no Rio, claro. A violência, a leviandade, o desrespeito ao próximo. Falando assim eu posso soar moralista. Mas quem vive por um tempo noutro país, percebe a loucura que é viver no Rio de Janeiro atual.

Hoje acordei e li e vi a história do tiroteio em São Conrado, na manhã de ontem. Diante da câmera, o repórter confortavelmente vestia um colete a prova de bala. São Conrado é este bairro inverossímil numa cidade inacreditável.

Sabemos que a solução não é o exílio. Além do Brasil ser maravilhoso, o país precisa de gente ambiciosa e dedicada para mudar esse processo. Mas por enquanto sinto que as coisas só pioram.

Voltar de trem via Utrecht, ver a planície novamente, as vaquinhas e ovelhinhas de sempre, me enche de emoção. Os holandeses silenciosos, quietíssimos, indo e vindo, será que sentem isso?

Mephi no Rio

1 de novembro de 2009 § Deixe um comentário

Depois de muito sofrimento e preocupacao pela minha gatinha, meus e da minha mae, arranjamos uma soluçao temporaria para ela, no Rio mesmo. Hoje foi o primeiro dia da Mephi numa nova casa, a da minha amiga Juliana, que se ofereceu para abriga-la. Não sei como agradecer a ajuda dela. E minha mãe também ficou mais aliviada. Agora ganho tempo para ver a viagem dela para cá – enquanto torço para que ela se adapte na casa da Ju também.

Vamos seguindo (com muitas saudades desse bichinho). Teria muitos assuntos sobre os quais falar aqui, como o que temos visto, feito e vivido. Mas não estou conseguindo encontrar tempo, ainda mais sem internet em casa. Sinto alguma saudade do Rio, não do Rio exatamente, mas família, dos amigos, de ter tempo para ler e para ver filmes.

Obrigada, Ju!!

flamengo 38

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