Estúdios

18 de abril de 2014 § Deixe um comentário

Estava há tempos querendo um espaço para trabalhar, pesquisar, ensaiar meus projetos. Durante os anos de estudo na KABK, eu mal podia arcar com o aluguel de casa, muito menos de um estúdio. Então eu usava a sala do Artscience todas as noites e todos os sábados possíveis. Ouvindo música e testando minha instalação com o maior conforto do mundo, haviam instalado ali uma grelha no teto, daquelas que permitem suspensão de equipamentos e de corpos múltiplos. Eu praticamente me pendurava como um chimpanzé, enquanto fixava os ganchos em todas as combinações imagináveis. Mas quando havia feriados ou quando estava ocupado, o estúdio nunca era meu. E com o tempo entendi a importância de se ter um espaço pessoal.

Praticamente todo mundo que eu conhecia já tinha o seu estúdio. Mas depende muito do network e da urgência de cada um. Alguns artistas raçudos alugam um espaço num squat (como traduzir?). Estes tem custos quase nulos, em geral não tem aquecimento, mas oferecem áreas enormes, onde se pode trabalhar por tempo indeterminado. Nesse esquema, nunca se sabe se o proprietário do edifício ou o Estado vão clamar o imóvel de volta. Nunca é exatamente seguro se instalar, levar todas as suas tralhas criativas para um squat (cujo sistema tecnicamente não existe mais aqui e sim o “anti-squat”, uma permanência provisória, com contrato, evitando a ocupação informal), pois a Holanda não é mais a mesma de antes. Queria muito ter tempo para pesquisar esta área das políticas de habitação e documentar para os meus amigos brasileiros todas as soluções alternativas de uso da cidade que acontecem por aqui.

Diz-se que nos anos 70 e 80 a vida artística neste país era muito mais prolífica e audaciosa. No entanto, mesmo hoje – quando todos os artistas locais reclamam da falta de recursos – para uma carioca que chegou há 5 anos atrás, como eu, ser artista na Holanda é ser um freelancer com uma infraestrutura que jamais se imaginou no Brasil. Existem subsídios e apoios de todas as formas. O artistas pode nunca se tornar um popstar, mas vive decentemente, em moradias ‘humildes’ subsidiadas, (cujo padrão de qualidade se equipara ao nível da moradia de classe média no Brasil) como um profissional como outro qualquer.

Finalmente, 6 meses depois de conseguir um trampo como designer gráfica, posso escolher onde, qual espaço alugar. E mesmo assim não é fácil. Muitos espaços bons e confortáveis já estão obviamente ocupados. Foi uma bela coincidência que recentemente conseguimos ecnontrar um estúdio de criação que está perto dos nossos sonhos. Foi durante um vernissage no Quartair que nos abordaram perguntando o nosso interesse em alugar uma sala vaga no térreo. Esta sala tem porta dupla, metade dela tem um pé direito de 5 metros e a outra metade uns 2.5 m. Uma área de 92 metros quadrados. Nossa reação foi “Sim, queremos alugar agora”. Apenas duas semanas antes eu alugara um estúdio num anti-squat, na nossa rua, cuja planta não me era tão conveniente, mas já tinha assinado contrato. Cancelei na semana seguinte. Mike vai cancelar o contrato dele, de mais de 6 anos, no DCR. Tirando um peso das costas, depois de inúmeras tentativas de comunicação com os administradores locais.

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O Quartair, é um um dos poucos espaços realmente experimentais e auto-geridos em Haia. Funciona como um complexo, além dos estúdios, eles organizam exposições no salão principal, e todo tipo de evento  Outras cidades como Rotterdam e Amsterdam estão cheias destas iniciativas. Uma delas, é o Kunst en Complex, no porto de Rotterdam. Fábrica desativada, que vários artistas ocuparam desde 1981.

Estes exemplos não se vêem no Brasil por dois motivos a meu ver. De um lado não existe uma visão de que edifícios vazios podem ser re-ocupados por preços irrisórios para projetos alternativos ou sem fins lucrativos. Por outro lado, os artistas brasileiros, de uma forma geral, não conhecem ou nem buscam estas soluções que podem propiciar o local e o ambiente de convívio com a arte, sendo iniciados e geridos por eles mesmos. Eu me incluo aí, não conheço qualquer exemplo no Brasil, de alguma organização do gênero e não saberia iniciar eu mesma, do zero, um espaço que exista pura e simplesmente para criação artística. Mas este seria sim, um dos meus sonhos mais caros. E este é um sonho compartilhado com o Mike também.

No Rio

12 de agosto de 2013 § Deixe um comentário

Estou no Rio. Revendo os amigos, renovando documentos para um visto na Holanda e acima de tudo, passando tempo com a família. Dentre os pontos altos e baixos da viagem estou revendo arte, arquitetura e políticas urbanas. Quis fazer uma lista do que me encanta e do que me entristece nesta cidade.

Sobe: Chelpa Ferro, Ronald Duarte, galeria Progetti

Desce: o mau estado das instalações do Planetário carioca, na Gávea. Monitores de sobra e manutenção de menos. Em pleno mês de férias quando visitei, julho, a cúpula principal “estava em manutenção”. Seja o que for, um conserto deveria ser realizado à noite ou em poucos dias, para atender ao máximo o público. A cúpula principal fechada nas férias demonstra falha de planejamento. Isso sim.

Sobe: Casa do Saber, sua missão e sua programação intensa – impressa num pequeno e belo catálogo semestral (só faltou um calendário ali) e disponível no site.

Desce: o mau estado e mau uso do Palácio Itamaraty, belíssimo edifício no centro da cidade que – devidamente guardado por suas atividades oficiais e extra nacionais – não permite a chance de ser apreciado e aproveitado, nem àqueles poucos que o visitam durante a semana. Os arredores do Itamaraty são também hostis, o lado negligenciado do Centro antigo, próximo à Central do Brasil, que mais afasta do que atrai os visitantes.

Sobe: O Dança em Foco, que começa esta semana e oferece uma programação vasta e acessível no Cacilda Becker e na Maison de France

Desce: as calçadas, o asfalto e o estressante tráfego no Rio

Lente

16 de maio de 2012 § Deixe um comentário

A primavera, para o povo de fora dos trópicos, é coisa séria. Quando aparece, ela realmente levanta o astral de todo mundo. Depois do rigoroso inverno de dias curtos e um frio de doer, a luz, os perfumes e as cores alavancam o humor de todos. Nos trópicos, como grande parte do Brasil (onde a natureza é mais constante no seu desabrochar) a gente só imagina este processo da primavera pelos livros e filmes e fotos, mas a experiência estética é muito mais intensa ao vivo. Saber nem sempre é sentir. Parece conversa de revista de decoração, mas é papo seríssimo.

E se os holandeses são mestres do planejamento, do design, da manipulação de cada centímetro quadrado de terra, as flores não ficariam de fora. Elas são notoriamente selecionadas há séculos também. E continuam sendo. Estas que vocês veem aqui ganharam nomes de estrelas de cinema, por exemplo. A gente no Brasil conhece essa cultura ao visitar a antiga colônia holandesa em São Paulo, Holambra, onde estive uma vez, por volta dos meus 8 anos. Só lembro mesmo das cores e do tamanho das flores tomando todos os meus sentidos, ao adentrar a feira.

Nessa época na Holanda, não só as flores comercializadas, mas todos os canteiros, meio fios, pequenos trechos de gramado estão cambiando de formas, escandalosamente, encantando os passantes. A cada semana um desfile diferente. Pedalando pela cidade, você descobre uma nova espécie pululando aqui e ali. Um dia o canteiro em frente à minha escola está pintado de amarelo. Na semana seguinte de rosa, na outra, de branco… E você pode levar consigo uma ou outra flor pelo caminho, pois elas abundam como se oferecendo-se: me leva?. Outro dia fiz dois buquês na orla do canal aqui perto de casa e levei para mim.

Fiz essas imagens no sábado passado, enquanto escolhia umas flores para oferecer a uma família a que ia visitar. Esta esquina era um espetáculo matinal.

E para completar, estou começando a pesquisar flores comestíveis. Quero planejar um almoço onde algumas destas espécies poderão ser apreciadas e degustadas. 1) Para provar que comer é experiência multisensorial. 2) Para provar que amor é ingrediente essencial na comida de todo dia. 3) E, claro, unir o útil ao agradável, comer com arte! Veja um pouquinho mais pelo livro que encontrei: De Smaak van Bloemen (O sabor das flores): no post “Edible Flowers” no meu multiply. Vai aí um palpite e homenagem a Analu Prestes, que tem um olho especial para o jardim do mundo.

Em tempo: Lente é ‘primavera’ em neerlandês, ok? (desconfio que até a língua também foi modelada por eles, uma mistura de alemão com inglês, pitadas de francês e até quem sabe de espanhol).

Learning from The Hague

21 de agosto de 2011 § 2 Comentários

Já conhecemos o clássico Learning from Las Vegas, de Robert Venturi, 1972. A tese descrevia a ideologia do design e do planejamento de uma cidade totalmente artificial, cravada no deserto de Nevada, EUA. E existem os seguidores, dentre eles o recente Learning from Hangzhou. Estou começando o projeto Learning from The Hague, examinando esta cidade como microcosmos das terras baixas, ou mesmo da Europa ocidental. Quem sabe sai um produto gráfico engraçado também.

Quero falar das ruas vazias, dos projetos imobiliários duvidosos, da privatização do espaço público, do convívio entre os bucólicos europeus e os tensos marroquinos, a vigilância, a simulação e o simulacro. Como entender o controle e a tentativa de criar uma identidade local em meio a tantas interferências estrangeiras? O que é que faz da Haia a Haia?

Spui

18 de setembro de 2010 § Deixe um comentário

Estação Spui (“Spéau”) centro desta pequena cidade de Haia. Mergulhão do tram, planejado por Rem Koolhas.

Trago a pessoa amada em 30 dias

12 de agosto de 2010 § 2 Comentários

Estamos aqui, de férias ainda. Entre livros, filmes com amigos da ArtScience e a minha nova máquina de costurar, recebi uma curtíssima visita da minha progenitora – 8 dias. Fomos a Paris, logo ali. De trem Hispeed, como é chamado, leva 3 horas apenas. E caro, claro.

Nicolau, na Tour d’Italie, uma nova versão da prova francesa, só que sem competição, está indo bem. Diz que já sentiu muitas dores, mas elas vão mudando de lugar pelo menos. Nos falamos a um precioso SMS por dia. Partiu da Alemanha, passou pela terra de Asterix e da Nestlé. Chegou ao norte da Itália, pedala em média 100 km/dia e dorme em algum lugar acampado. Já faz duas semanas que saíram, ele e Maurice nessa empreitada. Quem tem bike vai a Roma.

Paris estava lotadíssima, sujíssima, agitadíssima. Não é culpa dela, é um fenômeno global esse negócio de turismo de massa. Ou eu que não conhecia a chamada “alta temporada”. Minha mãe se decepcionou profundamente. Não era nada do que ela imaginava a partir das histórias, filmes, fotos. Ainda por cima depois da exposição no Pompidou (esta sim, muito boa), Dreamlands, precisamente sobre utopias, parques e espaços de lazer sonhados pelos homens.

Ainda estou procurando emprego. Alguém viu um por aí?

As reformas no centro da Haia

12 de outubro de 2009 § 1 comentário

Passamos todos os dias pela estaçao Den Haag Centraal e vemos um gigantesco canteiro de obras, com dezenas de guindastes e tapumes que mudam de lugar toda semana, adequando as etapas de trabalho com a passagem dos pedestres. Mas o que chama atençao mesmo é a feiúra dos novos edifícios. Cada um superando o outro.

Logo aqui, num país que esbanja design! Vou postar mais fotos no meu flickr pra vocês se admirarem também. O que será que os arquitetos daqui estão achando?

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Com quantos paus se faz a ordem?

1 de outubro de 2009 § 2 Comentários

Quando se está na Europa, entre muitas sensaçoes boas de estar aqui, a da segurança é das mais cotadas por mim. A tranquilidade de portar uma câmera, um laptop ou o que for na bolsa, sem o medo de ser atacado, agredido ou assediado por inúmeros pedintes, não tem igual. Não quero soar arrogante, com algum desprezo pelo Rio de Janeiro, agora que estou aqui. Pelo contrário. Mas no Rio, o abismo social fica tão gritante que você quase não se permite ter certas coisas enquanto outras pessoas estão querendo o básico (sei que essa é uma questão contemporânea, global, não só do Rio, que poderia ser desdobrada em mil debates, ok, ok). E o nível de agressividade é tão intenso, que só pensava em tragédia, esperava o pior em cada esquina, cada ônibus que eu pegava (muito exagerada eu? ou alguém aí concorda comigo?). A menos que você viva numa redoma, atrás das grades da segurança privada, é melhor sair na rua só com o mínimo e até mesmo nem ter um notebook at all.

Enquanto por aqui eu posso voltar pra casa sozinha, por ruas desertas de Rotterdam, tirando fotos a esmo, das árvores, dos postes, das fachadas, altas horas da noite, sem passar por apuros. Tudo bem, não vou fazer isso todo dia, talvez. Pode ser que um dia aconteça alguma coisa. Pode ser. Mas o normal é que não aconteça.

Comecei a me perguntar então quantos policiais seriam necessários para se manter essa paz por aqui. Aliás, para que policiais, se não existe nada demais acontecendo? Meu amigo Rafael, que vive aqui há mais de um ano, já havia me alertado sobre a atuaçao da polícia holandesa. Mas só agora pude perceber a presença dela de fato nas ruas. Todas as ruas, todas as horas, em todos os contextos. Claro que são muito alinhados, educados, diria até tranquilos. Eles abordam o transeunte por qualquer coisinha. Se a moça está dirigingo a bicicleta numa rua só de pedestres, que ela vá caminhando ao lado da bicicleta. Ou se a bicicleta do outro é mesmo dele e se ele pode prová-lo etc. A maconha é legalizada aqui, sim, mas sob várias regras. Ai de quem fuma na rua e é pego pela Politie (ou “azuis” como são chamados também). Não sei nem o que acontece pra falar a verdade nesse caso… Mas sei que você pode ser preso por motivos inconcebíveis para um brasileiro bruto, recém chegado às terras baixas.

São coisas assim que se tornam opressivas para mim, num lugar tão civilizado como este, e me fazem pensar na música dos Titãs, Polícia para quem precisa/ Polícia para quem precisa de polícia. Esse carro que você está vendo na foto circula o tempo todo, em qualquer lugar. Existe também policial de bicicleta, a cavalo e tudo mais que for possível. Uma vez eu li um aviso num banheiro de bar, alertando aos eventuais junkies: “Big Brother is watching you”. 

Triste ordem essa a daqui. E triste a do Rio também. Será que a humanidade não vive decentemente sem bandido nem puliça? (será que serei rastreada e presa por eles, depois de escrever isso aqui?!)

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O lixo

19 de setembro de 2009 § 1 comentário

Há tempos que a coleta de lixo se tornou uma obsessão minha, mesmo que não acontecesse direito no Rio de Janeiro. Antes de chegar aqui eu esperava que o cuidado com o lixo fosse tão rigoroso quanto o da Alemanha, país modelo em coleta seletiva. Mas não é. Aqui só são separados o papel e o vidro. O resto (o que eles chamam aqui de Restafval) vai tudo nessa caçamba aí da foto. Tudo bem, então… Apesar da belíssima arquitetura e urbanismo, do altíssimo nível cultural e social do país, a gente ainda encontra pontos em que a Holanda precisa evoluir. Incrível.  

Outro dia vi os lixeiros recolhendo a caçamba de vidro e era uma operação e tanta. A caixa sai uns 4 metros acima do chão, ou seja, é uma caixa coletora que vai lá embaixo da terra. Assim, pelo que entendi, quando a gente deposita o vidro, ele cai e já se quebra todo.

Não me perguntem o que significa a mensagem com € 59, porque não sei. Provavelmente fala de alguma penalidade, aqui você pode ser multado por quase tudo.
Vou investigar.

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