Kyoto

22 de julho de 2016 § Deixe um comentário

Descobri, despertei, estou encantada com cultura do tatami. Elemento arquitetônico e experiência tátil que eu ignorava.

Estamos ficando numa casa tradicional japonesa (ryokan) na nossa primeira estada no Japão. A dona do ryokan é apaixonada por casas antigas e jardins. Comprou esta casa há 3 anos e reformou para abrir o riokan Joshoan.

Sentados na sala de convivência, a gente tem um jardim inteiro à nossa volta. As cigarras, os grilhos e tantos outros insetos cantam o dia inteiro. Faz muito calor. E dentro de casa o tatami parece ter a característica de manter-se isolado das temperaturas extremas. E tem um cheiro bom também, de palha. A casa toda cheia a diferentes tipos de madeira. E a dona da casa espalha um tipo de incenso anti-mosquito, pelo jardim, próximo às portas da varanda. A casa é cercada de tela anti-mosquito. Então se pode ver e ouvir o universo do jardim, sem ser picado demais. Mike não se cuida muito. Está colecionando picadas. As pernas e os pés parecem de um soldado vindo da guerra. As picadas se tornam feridas inchadas, vermelhas e escurecidas. Provavelmente reação alérgica e falta de alguma vitamina. Pois as poucas picadas que levei, já desapareceram depois de um dia.

Agora mesmo, sentada na varanda, vendo as estranhas borboletas passearem lá fora, enquanto Mike grava o concerto das cigarras, tenho vontade de permanecer aqui para sempre.

Em Jeonju 

17 de julho de 2016 § Deixe um comentário

Coreia

8 de julho de 2016 § Deixe um comentário

Meu primeiro pouso na sonhada viagem à Ásia, foi Seoul, Coreia do Sul. Com uma exposição agendada no Schema Art Museum, em Cheongju, seguimos primeiro de carro do aeroporto para o hotel em Cheongju. Nosso generoso condutor que nos recebeu no aeroporto foi o artista Jae-Nam Kim, também exibindo na mesma expo. Depois de dois dias em Cheongju, fomos com nosso grupo para Busan, uma cidade animada e riquíssima na costa sudeste da península. Fomos recebidos por Byung-Uk Park, amigo e parceiro do Quartair.

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Estamos em um grupo de oito artistas reunidos pelo Quartair, participando do intercâmbio com o Schema Art Museum. Em junho passado recebemos também oito coreanos que voaram para a Holanda e expuseram no Quartair por três semanas. Agora é a nossa de vez de viajar.

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Fomos recebidos com a maior generosidade, sendo levados de carro pra lá e pra cá, aos mais incríveis palácios, sítios históricos e restaurantes. Os nossos guias não nos permitiram pagar sequer um jantar, um drink, nem uma entrada de museu.

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Ontem foi o último dia em grupo. Foram dez dias intensos, de passeios, apresentações e refeições compartilhadas com 12, 14, 20 pessoas. Nos despedimos em Seoul. Hoje eu e Mike tivemos o primeiro dia livre para dormir um pouco mais e caminhar sem rumo… por esta cidade inacreditável.

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A melhor forma de viajar é fazê-lo com locais. Pessoas reais que querem nos mostrar o mais autêntico e mais válido de seu pedaço no mundo.

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Mr. Kim, Jai-Kwan

Shigeru Ban

11 de junho de 2016 § Deixe um comentário

Estamos nos preparando para uma viagem de 2 meses pela Ásia. Começando pela Coreia do Sul, depois Japão e Taiwan. Tenho assistido a todos os filmes, documentários e YouTube channels sobre qualquer coisa por lá.
E volta e meia surge um bom exemplo, novamente da arquitetura, me relembrando os meus primeiros contatos com estética e design.

Slow Walk em Bruxelas

24 de abril de 2016 § Deixe um comentário

Ontem foi dia Internacional da Dança. Senti-me convocada a participar da marcha lenta promovida por Anne Teresa de Keersmaeker, coreógrafa de Rosas, companhia belga de dança, que admiro muitíssimo.

A caminhada, abordada como dança, começou às 11 da manhã, a partir de 4 pontos distintos da cidade. Participantes de todas as idades e backgrounds, eram benvindos a juntarem-se à marcha, em qualquer ponto o trajeto e a qualquer momento. Eu cheguei no ponto mais ao sul, em Marolles. Caminhando 5 metros por minuto, cada grupo atravessou uma área da cidade até convergir na Grand Place, ou Grote Markt (adoro ir a Bélgica, pois minha prática no francês e no holandês alimentam-se mutuamente).

Fui com minha amiga Marit. Saímos às 8:30 de Haia, pegamos um ônibus de Rotterdam a Bruxelles-Midi. Fizemos um pit-stop para um café às 11:20 na própria estação e fomos correndo até a Rue Haute onde avistamos o grupo.

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A marcha lenta é interessante pois não estamos nada acostumados com a lentidão hoje em dia. Parece muito fácil, mas de fato a lentidão demanda um esforço enorme, um auto controle e uma consciência completa de todos os movimentos. Comecei a exercitar já no Artscience, há pelo menos 5 anos atrás. Apaixonei-me pelos exercícios e experimentos em que o movimento se torna quase invisível, de tão lento. Enfim, posso dizer que tornei-me uma boa praticante, não que seja mestre, mas tem um apreço muito grande pelo assunto.

Notei que a multidão, que fora fazer a slow walk, não era muito lá bem treinada. De longe pareciam fazer algum tipo de manifestação silenciosa. Claro que um grupo de gente caminhando junta, sempre terá um caráter de protesto. Mas o frio estava de rachar. Quase todo mundo punha as mãos no bolso, capuz, e cara virada pra baixo – sem saber que passavam uma imagem esquisita da marcha. Mas tudo bem, o bacana é que todo mundo poderia participar e naturalmente iam pegando o jeito, de uma forma ou de outra. Com algumas exceções, de pessoas que creio serem bailarinas, que se moviam de forma exemplar, a massa de caminhantes por vezes parecia mais um desfile de zumbis que de seres humanos.

Uma descoberta maravilhosa foi de que a cidade pode ser muito mais apreciada do que se imagina, caminhando a passos de tartaruga. Não só as fachadas, cartazes e placas podem ser lidos e analisados, mas como os sons, os cheios e as superfícies se tornam muito mais evidentes. O que vivi foi uma experiência de realidade aumentada, onde eu tinha a chance de ver e sentir a cidade, como nunca antes. E para completar, levei a nossa câmera GoPro, para poder registrar alguns momentos, culminando no workshop na Grand Place.

Bruxelas, é preciso frisar, tem um charme incomaparável com as cidades ultra organizadas da Holanda. De ruas antigas estreitas, com edifícios velhos e novos, padarias turcas, lojas de antiquário, grafite, bêbados, turistas, amigos conversando pela rua. Coisas de cidade grande que quase não existem em Haia por exemplo. Ainda por cima, o relevo e o urbanismo oferecem mais sensações, com altos e baixos, ladeiras, vielas, escadarias. Estou por coincidência numa fase fenomenológica com a experiência espacial. Lendo sobre genius loci, sobre a imagem da cidade, bolando a minha própria teoria de exploração do corpo humano em relação ao espaço circundante. Bruxelas tem vida, tem vagabundos, tem imigrantes, ruínas, teatros, castelos, tudo misturado, no centro da cidade. Não é à toa que a companhia Rosas está lá.

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Chegando na Grand Place, ainda devagarinho, nos fundindo com a multidão, avistamos os outros grupos que vinham de outros cantos da cidade, com a Keersmaeker nos aguardando para o fechamento da performance. Ela com um microfone sem fio, imersa na turba, iniciou as instruções do que viria a ser uma aula de dança para mais de 500 pessoas. Os que passavam por ali sem saber, na maioria turistas, acabaram sendo absorvidos e dançando também. Conforme as instruções, íamos cruzando a praça em linha reta, em curva, em passos largos, curtos, na ponta do pé, andando nos calcanhares, levantando o joelho ou levantando a mão. Ela nos fez reviver a escola das ‘silly-walks’ do Monty Pyton, botou David Bowie e Prince pra tocar, para uma platéia unida e entusiasmada, sem medo de terrorismo.

Obrigada Anne Teresa, pela experiência enriquecedora de estar na multidão e estar comigo mesmo. Por poder descobrir a cidade com novos olhos, ouvidos e meus pés. De estar em Bruxelas – depois da tragédia do dia 22 de Março deste ano – e estar segura, fazendo o que há de melhor na vida. A dança realmente quebra barreiras e une as pessoas de uma forma muito simples.

Estado de alerta

13 de abril de 2016 § Deixe um comentário

Se por um lado é bom viver numa Holanda civilizada e segura, por outro, vê-se cada vez mais policiais fazendo a ronda nas ruas, nos bondes e nos trens. Antes não haviam catracas para se pegar um trem, hoje se vêem novas catracas sendo instaladas em quase todas as estações.

Os controladores de bonde eram normalmente funcionários uniformizados simplesmente  com a camisa da operadora de transportes, a HTM. Hoje eles vestem coletes policiais e vez por outra estão à paisana.

A sensação que dá é que a segurança também custa a nossa tranquilidade. Em Haia, convivemos cada vez mais com a vigilância ostensiva de policiais a pé, de bicicleta, a cavalo e de carro. O centro da cidade é praticamente uma área sitiada. A única opção no espaço público é de exercermos o nosso papel de consumidores. Enquanto compramos estamos livres e assegurados.

Seguimos tranquilos. “Quem não deve não teme”, é o que se pensa. E assim perdemos nossa privacidade e nossa capacidade de nos governarmos. Na Holanda, praticamente qualquer atividade em espaço público deve ser antes notificada e autorizada pelo estado. Toda manifestação, performance de rua, campanhas dos mais diversos fins, todas devem receber antes o aval da polícia. Tornaram o que era direito em algo sujeito a permissão e a repressão.

Ainda por cima, neste clima nórdico, de temperaturas inóspitas, a arquitetura e o mobiliário urbano não incentivam a vida pública. Pouquíssimos são os bancos de praça, onde algumas pessoas às vezes se sentam para aguardar alguém na rua ou papear no telefone celular. Nesse país em que chove dia sim, dia não, também não há marquises – gentilezas urbanas – para se abrigar da chuva e do vento.

Em Haia, alguns problemas urbanos foram e são resolvidos de forma inteligente. Tirou-se o tráfego de veículos do centro, privilegiando o transporte público, os ciclistas e os pedestres. Cada vez mais os estacionamentos são enterrados, construídos abaixo do nível da rua, o que realmente proporciona qualidade de vida. Mas o que dizer dos arranha céus do centro? Parece que estão forjando uma nova imagem da cidade, onde os edifícios de escritórios tomam conta da paisagem. Quantos edifícios vazios, que não podem mais ser ocupados, pois a lei dos squats foi substituída pelo ‘anti-squat’? Aluguéis baratos, em lugar das antigas ocupações que até pouco tempo atrás eram legítimas. Ninguém jamais ficou sem casa.

A mensagem que se passa é a de que o cidadão não é bem vindo. Somos todos suspeitos. Enquanto se fala em ‘crise dos refugiados’, como se fosse um problema ‘dos outros’ lá longe no Oriente Médio, do lado de cá da Europa Ocidental, jovens são recrutados pelo extremismo pseudo-religioso, gerando uma preocupação legítima com o terrorismo. Enfim, estamos todos sob controle, para o nosso próprio bem.

Esta solução é uma forma de repressão “passiva”. Mais vigilância, menos possibilidade de convivência das diferenças, menos gentilezas urbanas (ah, é, as lixeiras também são cada vez mais escassas, pois “podem facilmente servir de repositórios para explosivos” usados por terroristas urbanos, por exemplo). Não se resolvem as questões mais essenciais, que seriam a da justiça social, do fim das intervenções no Oriente Médio por parte de americanos e seus aliados europeus e mais integração social.

Mas os europeus seguem seus caminhos tranquilos. O problema é dos outros.

PS.: Enquanto escrevo isso, uma gigantesca crise política e econômica se desencadeia no Brasil. Parte por um processo de recessão que já estava anunciado e parte por um cisma político que coloca a presidência em xeque. A sociedade mais dividida do que nunca, de forma maniqueísta e simplista. Como se fosse uma luta entre os ricos e pobres, direita e esquerda. Mas todos corruptos.

Ação precisa

11 de março de 2016 § Deixe um comentário

Cada dia para o artista é precioso
O tempo é tudo que se tem
As horas passam numa revolução
As manhãs são prolíficas, as noites são decisivas
A vida é uma celebração

Cada gole, cada mordida são deleite
O primeiro café é o primeiro presente
A primeira leitura do dia é arrebaratora
A música é fonte de nutrientes
Tudo é alimento para o artista

Outros artistas são boas companhias
Os loucos são inspiração
Os obcessivos tem alguma razão
Os normais não lhes interessam

Eles não sonham inocentes
Sonham outros mundos
Criam mundos,
Castelos, pontes, relevos, tornados

Sair da caixola
Descobrir um lugar novoProvar algo que não conhecia

A imaginação não é delírio,
é aberta, é fluida e é dinâmica
O processo de trabalho cria novas conexões,
Não é certo, é impreciso, é um mistério

O artista precisa ser rápido
Pensa com as entranhas
Não pode perder a oportunidade

O artista se arrisca
O artista agradece
O artista é ansioso
O artista é consequente
O artista sente

Com pressa, sabe o que quer
O artista quer aquilo que não existe
Gosta do que não conhece
Aquilo que está por vir,
Aquilo que se transborda por cima do muro

O artista não quer exposição
Quer diálogo,
Busca trocas, quer se chocar

O artista se interessa por tudo
Mas tem foco
Precisa manter o foco
Mesmo quando se perde

O artista é o herói de seu próprio mito
Constrói seu caminho
Sem saber a trajetória
Vai atento, percebendo as reentrâncias e saliências
As pedras, o vento, a luz e a sombra
Com todos os seus sentidos aguçados

Will Calls

9 de março de 2016 § Deixe um comentário

Tenho ouvido há 4 dias sem parar essa música e os remixes:

Under your hard lens
making too few ends
meet a middle ground I know, it’s defense

Oily hands, slippery slope
Pointed fangs without scope

Understand me
I know
No mistaken time goes
undeserved without, everything, everyone you know

Even if Will calls
Doesn’t mean fall out
We once had a thing I know, vanished

All of my rights lingering
It isn’t a place that I’ve been

I don’t wanna be, I don’t wanna know the lies
Shouldn’t ever be what it was alright
I’ll choose to believe what’s right
Even if in the end I’m blind
I don’t wanna be, I don’t wanna know the lies
Couldn’t ever be what it was, alright?

Even if we send
Everything from both ends
So little left to, say, do, it depends

If we are past what we keep
All that was promised that was sheathed

No mention of our,
unchecked accord
I leave this, without regret, or hearsay

Even though I’ll move on
Doesn’t mean this goes strong
Can’t believe it to be undone, finished

Say what you want me to believe
Please show me something I can see

I don’t wanna be, I don’t wanna know the lies
Wouldn’t ever be what it was alright
I’ll choose to believe what’s right
Even if if in the end I’m blind
I don’t wanna be, I don’t wanna know the lies
Couldn’t ever be what it was, alright
I’ll choose to believe to believe what right
Even if in the end I’m blind

Coreia

26 de fevereiro de 2016 § Deixe um comentário

Em meio a reuniões com o Quartair, planejando nossa ida à Ásia, descobrimos esse rapper coreano. Nossa viagem seria Coreia do Sul em julho e Taiwan, em agosto, com a coicidência de sermos selecionados para festival Modern Body, que este ano estreia em Taipei.

O rap é sinistro, mas é bom.

Pensamento

12 de fevereiro de 2016 § 1 comentário

Pesquisar e desfrutar o nada. Fazer nada. Não é fácil, um sentimento de culpa, a ansiedade. Estive lendo sobre demência digital, os asiáticos perdendo a memória de coisas cotidianas, por excesso de informação e distrações ininterrúptas. Meu júbilo é quando o celular não toca, nem vibra. Desativo todas as notificações de aplicativos irrelevantes. Aliás poucas pessoas me telefonam normalmente.

Nas últimas semanas trabalhei menos, e tenho me encontrado cada vez mais. Também vejo a grana encurtar, mas ainda não é sério, tem mais alguns trabalhos vindo. De repente, descubro que contemplar a passagem do dia, poder escrever e planejar, com esse pouco mais de tempo pra si,  é o verdadeiro luxo de viver. Deixar a mente fluir, poder escolher entre tomar um chá, ou cuidar da casa, ou ler um bom texto, sem compromisso de nada, isso que é ostentação para mim.

Nunca subestimar uma tarde ensolarada de fevereiro! É sexta-feira. Faz mais frio do que nunca lá fora. Já cansei do inverno pra variar. Aqui dentro resisto a tudo lá fora. Dentro de mim, ideias, projetos incríveis. Escrevo tudo freneticamente, planejo mil coisas que estão só esperando. Realizar.

Palavras do dia: idleness – Tradução: ociosidade, inatividade (indolência tem uma conotação ruim; Precisamos dessas pausas mesmo para trabalhar melhor)

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Erwin Wurm, Instructions for Idleness, 2001